quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

My name is Ric: Hen Ric


Como te chamas?

Eis a questão tronco e basilar de onde muitas relações nascem.

Mas a resposta esconde por vezes pesadas heranças.  Por algum motivo decidi ser aqui o Henrique Shiuu.

Se sempre olhei para o apelido como um puro produto de uma cultura patrimonial,  espantou-me saber que só em 1911, com a implantação do registo civil, tenha surgido a obrigatoriedade hereditária do nome quando até aí as alcunhas rivalizavam com os nomes ancestrais. Repare-se que até ao século XVII nem sequer a família real dispunha de apelido.

Note-se que ainda hoje, se muitos lutam pelo direito ao casamento, poucos manifestam a necessidade de união dos nomes após o matrimónio. Uma realidade que tanto afecta casais hetero como homossexuais.

Concluo que vivemos numa época em que nada se sobrepõe ao direito de escolha individual. Algo que me parecia profundamente fracturante face a modelos tradicionais mas que na verdade não o é.
Desde a sua génese que o apelido tem uma função fundamentalmente totémica que visa proibir o incesto e garantir um culto aos mortos.  

Toda a restante carga cultural que poderá fazer dum apelido uma herança, em contraste com o nome que nos foi dado - importante sublinhar o facto de se tratar de uma dádiva – é na verdade uma opção consentida.

Nestas questões de nomes, um exemplo toca-me mais do que outros: o de Van Gogh; o artista que assinava os quadros com Vincent; que recusara por inteiro a função filial do nome embora tivesse partilhado o grosso da sua vida com o irmão; o pintor que nunca vendera em vida um único quadro: por detrás do nome de Van Gogh, qual o legado que ficou?

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Ganância


Quem viu o filme Wall Street saberá aquilo a que me refiro quando digo que a ganância está hoje no centro de todos os desafios políticos e económicos que enfrentamos.

O que é que faz com que, hoje em dia, se entrevistarem jovens chineses, russos ou europeus que o valor que mais norteia os seus objectivos seja o de ter dinheiro?. Isso à margem de qualquer lirismo, é a realidade e é bom que saibamos olhar para esse cenário como ponto de partida para uma reflexão que não seja somente ideológica.

O estranho é que historicamente todas as utopias clássicas contestam o dinheiro ao mesmo título que a família e a propriedade privada: o santo é aquele que não tem não tem nada mas que é tudo. Cristianismo e Islão unem-se ao condenar os empréstimos com juros e será necessária a reforma calvinista para permitir a abertura de bancos.

Mas o problema das ideologias é que se esquecem que o ser humano não é perfeito: seja qual for o sistema político, sejam quais forem os modelos morais e cívicos, existirão sempre ovelhas negras no rebanho. Quer estejamos a falar de stock options ou de salários. 

Quer isso dizer que a história nos condena à injustiça?

Não.

Não havendo sistemas perfeitos, não deixo de acreditar que estamos na aurora dum novo principio social e económico. Um modelo que reabilite um noção basilar de troca e partilha.

Estou convencido de que o modelo a desenvolver passará pelo estatuto de accionista empresarial: garantir que o interesse do trabalhador esteja indexado aos rendimentos da empresa. Tudo isso, com a salvaguarda dum principio base de transparência.

Vejam que parte da satisfação ou frustração que o dinheiro permite é sempre simbólica desde que,  sejam garantidos patamares mínimos de subsistência.

A esse respeito,  apetece-me aqui citar um inquérito efectuado numa universidade norte-americana junto a um conjunto de estudantes. Chegou-se à conclusão de que uma larga maioria preferia receber 50 mil dólares se o vizinho ganhasse 25 mil mais do que ganhar 100 mil face a um vizinho que ganhasse 200 mil.

Assumindo que o dinheiro serve hoje para garantir um estatuto na comunidade o que importa é salvaguardar esse sentido de pertença.  Se houver alguma justiça na empresa, o trabalhador não se importa de ganhar menos.  Idem para o Estado: para quando contas públicas, que incluam as remunerações de qualquer funcionário, disponíveis online?

É imperativo que as pessoas confiem no sistema e para tal duas coisas são essenciais: exemplaridade e transparência. 


As horas



Passou-se uma semana sem que aqui viesse
Os hábitos são tramados
Tanto me convenço de que algo mudou e de que a escrita voltou a ser uma companheira para vida
Como arrumo a caneta no fundo do bolso sem sequer me lembrar dela
E, neste momento, vim aqui só para dar um mergulho
Só para diluir alguma culpa
Não tenho nada para dizer
Rapidamente se volta à estaca zero, àquela em que tudo parece absurdo
Sei que tudo isto é reversível, tanto num sentido como noutro
Mas na verdade nada foge a esta máxima: é tudo uma questão de vontades e apetites.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Os lobbisomens


Lobbies, grupos de pressão, think tanks, centros de reflexão... Quem são afinal estes homens dos bastidores?, qual o poder financeiro que os sustenta?, de que forma influenciam o poder político?

É espantoso ver a rapidez com que, nos últimos anos, a esfera política se foi desinvestindo do seu papel de perito público e objectivo; na mesma altura, verbas astronómicas saídas directamente das receitas também colossais dos grupos industriais e financeiros são canalizadas para fundações e grupos de pressão: os dirigentes precisam de informação para agir e há hoje um número crescente de consultores e especialistas cuja função é a de fazer chegar a informação estratégica ao interlocutor adequado, na altura certa de modo a influenciar os decisores. 

Claro que a mensagem passa sempre melhor num Copacabana Palace ou jantar mundano do que num bastidor ministerial.

O político deixou de ter – se é que alguma vez teve – perspectiva sobre a realidade em que actua; é-lhe, por isso, essencial o acesso a uma informação fidedigna. Mas o problema é que enquanto os actores da vida económica dispõem hoje de meios consideráveis para fazer chegar ao legislador e ao eleito verdades embrulhadas em papel de seda, já do lado inverso, o consumidor, o eleitor, o contribuinte, esses, não dispõem de meios consagrados para elaborar planos de comunicação ou de sustentabilidade económica que convençam.

Esta é hoje uma realidade mundial: veja-se em Bruxelas – segunda capital mundial do lobbying após Washington – a título de exemplo, em Outubro de 2008, Durão Barroso, presidente do Parlamento Europeu,  cria um grupo de estudo para a saída da crise composto por oito membros independentes; vai-se a ver, três desses oito membros estavam directamente ligados aos maiores bancos norte-americanos na origem da crise financeira – Citygroup, Goldman Sachs e Lehman Brothers – enquanto todos eles eram adeptos da desregulação financeira: resultado, Bruxelas acabará por votar políticas de resgate dos bancos com dinheiros públicos; quem fala aqui de dinheiros públicos, fala de dinheiro que directa e indirectamente saí dos bolsos do contribuinte para financiar o sistema da finança privada.

É interessante, aliás, olhar para os benefícios históricos das grandes empresas em tempos de crise. Para que conste, as maiores empresas nacionais foram em 2011 a EDP, a Galp Energia, a Portugal Telecom, o Grupo Jerónimo Martins, o BCP, o BPI e a Sonae SGPS. 

Convido os menos informados a visionarem “os Donos de Portugal” (www.donosdeportugal.net/) caso queiram saber quem são os homens que estão por detrás das empresas mais rentáveis deste país.

Face à importância dos grupos de pressão, face aos interesses dos nossos eleitos, face ao desinvestimento das comissões de acompanhamento político, face até ao corte de trinta por cento no vencimento dos magistrados, hoje mais do que nunca impõe-se a necessidade de maior transparência nos corredores da nossa democracia.

Se cada vez mais as opiniões públicas sentem que não passam de marionetes entregues ao jogo político, não se duvide que a esfera política está também ela manietada por um poder oculto que interessa, se não denunciar, pelo menos identificar.