segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Poder e cultura


Não estará na hora de questionarmos a inocuidade das chamadas figuras públicas que ocupam, hoje em dia, o espaço público?

Desde os colunáveis aos nossos representantes políticos, a nosso modernidade foi consagrando cada vez mais personalidades notoriamente incultas.  A plástica substitui-se à graça e o pretenso carisma à inteligência.  O mercado que mande, dirão alguns; a que eu respondo: não basta.

É que se fizermos uma pequena retrospectiva, veremos que era papel da nobreza de outros tempos, o associar ao poder um dever de exemplaridade e de moralidade, ainda que pudesse só ser em termos aparentes. A burguesia optou por fazer da cultura e da educação o seu melhor brasão.  Já hoje, torna-se difícil tipificar um padrão de meritocracia que caracterize uma qualquer elite.

O bom da coisa, é que a sociedade do saber deixou de ser piramidal e que se encontram hoje pessoas portadores desses valores de exemplaridade em todos os quadrantes socioeconómicos.  Agora eu pergunto: como e quem é que faz hoje história?

Esta é uma pergunta que me leva a questionar aqui outro ponto: qual a relação que seria desejável existir entre a esfera da cultura e do saber e a da ação política?

Recordo que temos como símbolo nacional um poeta: feito inédito num mapa povoado de heróis militares.  É certo que se olharmos para uma galeria de fotos oficiais dos nossos presidentes da república, observaremos que após os trajes militares se seguiu a bela da biblioteca como pano de fundo antes de se chegar agora ao relvado, janela aberta ou lareira, símbolos da inocuidade.

O poder político quer-se hoje afastado da cultura tanto quanto essa se quer hoje alheia a esse parente incómodo. 

A cultura deixou de ser o vector preferencial de construção de imagens sociais fortes; daí que os atuais assessores políticos estejam mais interessados em domar a linguagem audiovisual  do que tentarem ver e perceber a sociedade através das suas representações culturais.

E assim se foi evoluindo Europa fora para governos compostos de especialistas e técnicos de contas. Ser culto é hoje algo de francamente dispensável no exercício do poder.

É bom contudo questionar de onde nasceu o sistema que organiza as relações entre esquerda e direita dentro do qual se pensam as liberdades.  Nomes como Rousseau criaram as bases da nossa democracia moderna.

Alguém aqui acredita que os atuais representantes democráticos sejam os fieis herdeiros de quem um dia definiu conceitos como o de justiça e igualdade?

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