segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Mas que luxo?


Bom, em boa hora que os saldos estão a chegar ao fim porque devo confessar que o “zaraboy” que há em mim, estava na iminência de atirar os belos princípios para o lixo a troco de umas camisas por menos de dez euros.

O meu dilema em comprar mais um trapinho não tem só que ver com o impacto ambiental que a massificação do consumo de algodão induz.  Neste caso, tem que ver com o facto de uma mega marca como a zara dar cabo de uma série de pequenos e médios produtores e retalhistas.

Convenhamos que os centros urbanos das nossas cidades estão cada vez mais parecidos uns com os outros.  E por detrás dessa imagem há toda um conjunto de fileiras profissionais que deixou de dar trabalho a muitas gente levando igualmente a uma perda efectiva de qualidade de vida. 

Aliás, há dias, vinha de carro com o meu amigo Pierre, quando ali parados na avenida junto a uma loja de luxo francesa, o Pierre partilhou comigo ter uma amiga em Paris que é estilista para a dita grife. É verdade que quando fui viver para Paris, também acabei por conhecer engenheiros que trabalhavam para o sector automóvel; designers, criativos e artesãos empregados nos sectores da moda, do luxo ou da decoração.

E é pensando na assimetria que separa, neste registo, Paris de Lisboa que me surge uma certa culpa ao consumir em peso marcas baratas feitas a baixo custo a dez mil quilómetros daqui.

Contudo...

Sim, contudo, minora-se me a culpa quando vejo que dos mil euros que custa um fato de pronto-a-vestir de luxo, somente oito por cento remuneram os custos de confecção; desses mil euros, o custo da mão-de-obra eleva-se a somente 35 euros, ou seja 3,5 por cento do custo final;  além dos oito por cento para a confecção, soma-se o IVA, mais 20 por cento de custos da marca – que aí sim remuneram profissionais da comunicação e afins – para além de outros 25 por cento para cobrir toda a distribuição: Fica uma margem de revenda de 30 por cento.

Confesso que estes números me chocam.

Choca-me que somente oito míseros por cento do preço sirvam para suportar toda a confecção dum artigo considerado de luxo.

Choca-me que o revendedor ganhe dez vezes mais do que o confecionador numa mesma peça.

Choca-me que o grosso das profissões envolvidas na indústria da moda sirvam para atiçar o desejo mais do que para garantir uma diferenciação qualitativa do produto final.

Choca-me que para conseguir suportar os custos fixos de funcionamento um restaurador deva conseguir vender o seu prato a pelo menos quatro vezes o preço de custo.

Choca-me que o luxo mundializado considere sair da Roménia ou de Portugal . caso da vuitton -  por acharem que pagar 400 euros mês a um trabalhador é demasiado.

Choca-me que nós consumidores, sejamos tão básicos.

Será lírico considerar que o luxo está nos respeito que é colocado nos pormenores da confecção mais do que nas projeções que permite?

Qual é afinal a diferença entre uma camisa zara ou uma da kenzo?

1 comentário:

  1. Convido o maior número a verem, com atenção, esta reportagem francesa que desvenda os bastidores da indústria do luxo e que deu origem a este post:

    http://www.dailymotion.com/video/xw7z6g_envoye-special-le-luxe-les-coulisses-d-un-savoire-faire_news#.UQVxY47yfIY

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