segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Ganância


Quem viu o filme Wall Street saberá aquilo a que me refiro quando digo que a ganância está hoje no centro de todos os desafios políticos e económicos que enfrentamos.

O que é que faz com que, hoje em dia, se entrevistarem jovens chineses, russos ou europeus que o valor que mais norteia os seus objectivos seja o de ter dinheiro?. Isso à margem de qualquer lirismo, é a realidade e é bom que saibamos olhar para esse cenário como ponto de partida para uma reflexão que não seja somente ideológica.

O estranho é que historicamente todas as utopias clássicas contestam o dinheiro ao mesmo título que a família e a propriedade privada: o santo é aquele que não tem não tem nada mas que é tudo. Cristianismo e Islão unem-se ao condenar os empréstimos com juros e será necessária a reforma calvinista para permitir a abertura de bancos.

Mas o problema das ideologias é que se esquecem que o ser humano não é perfeito: seja qual for o sistema político, sejam quais forem os modelos morais e cívicos, existirão sempre ovelhas negras no rebanho. Quer estejamos a falar de stock options ou de salários. 

Quer isso dizer que a história nos condena à injustiça?

Não.

Não havendo sistemas perfeitos, não deixo de acreditar que estamos na aurora dum novo principio social e económico. Um modelo que reabilite um noção basilar de troca e partilha.

Estou convencido de que o modelo a desenvolver passará pelo estatuto de accionista empresarial: garantir que o interesse do trabalhador esteja indexado aos rendimentos da empresa. Tudo isso, com a salvaguarda dum principio base de transparência.

Vejam que parte da satisfação ou frustração que o dinheiro permite é sempre simbólica desde que,  sejam garantidos patamares mínimos de subsistência.

A esse respeito,  apetece-me aqui citar um inquérito efectuado numa universidade norte-americana junto a um conjunto de estudantes. Chegou-se à conclusão de que uma larga maioria preferia receber 50 mil dólares se o vizinho ganhasse 25 mil mais do que ganhar 100 mil face a um vizinho que ganhasse 200 mil.

Assumindo que o dinheiro serve hoje para garantir um estatuto na comunidade o que importa é salvaguardar esse sentido de pertença.  Se houver alguma justiça na empresa, o trabalhador não se importa de ganhar menos.  Idem para o Estado: para quando contas públicas, que incluam as remunerações de qualquer funcionário, disponíveis online?

É imperativo que as pessoas confiem no sistema e para tal duas coisas são essenciais: exemplaridade e transparência. 


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