Pois é, do primeiro ao texto anterior, pode se
dizer que há aqui um discurso meio contraditório: Mas aproveito para abrir aqui
o seguinte parêntesis...
Até há uns seis meses atrás fui semanalmente
partilhando as reflexões de uma amiga algo perdida ao termo de sete anos de
tese de doutoramento de filosofia... Revelou-se uma experiência muito estruturante.
De todas as ideias que fomos cozinhando em modos de brain storming, percebi mais do que nunca que o processo criativo
alimenta-se da dúvida e da insegurança.
Atulhada de leituras e referências, a escassas semanas do prazo acordado
para concluir – já fora de prazo – a sua tese, a Erinç ainda não fazia a menor ideia de qual iria ser o desenlace de tanta pesquisa. No entanto, lá conseguiu – com persistência,
sentido de missão e honestidade intelectual – ir somando uma a uma as peças,
recusando qualquer atalho ou “assemblage” preexistente. E sabem que mais, a
coisa, por um estranho milagre resultou... Ao final, lendo aquilo de uma só
vez, parecia que aquele era o único rumo possível. Que aquela tese tinha
nascido para aquela conclusão...
Claro
está que depois de a vender como um todo coerente e fluído, a Erinç guardou para ela a
verdadeira substância daqueles sete anos de dúvida e esforço.
Tudo isto, para dizer o quê?
A vida tal como o ser humano é um composto, por
vezes, muito caótico. Pelo menos a minha vida e a minha pessoa. Há dias em que
quero uma coisa para querer o seu contrário no dia seguinte. Ainda há dois dias vendia a alma para poder
estar a sós, hoje já vendo a mesma para sentir intimidade de peito. Se coerência houver, ela só pode ser
decifrada numa perspectiva de conjunto.
Tudo isto para dizer o quê?
Para dizer que a existência desta pequena
gruta, só faz sentido se eu me autorizar a ser aqui totalmente sincero. Não
quero temer nem a sinceridade nem a incoerência. Deixo ao tempo a estranha
magia de pôr em perspectiva e dar sentido a este aqui e agora.
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