sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Em modos de aparte


Pois é, do primeiro ao texto anterior, pode se dizer que há aqui um discurso meio contraditório: Mas aproveito para abrir aqui o seguinte parêntesis... 

Até há uns seis meses atrás fui semanalmente partilhando as reflexões de uma amiga algo perdida ao termo de sete anos de tese de doutoramento de filosofia... Revelou-se uma experiência muito estruturante. De todas as ideias que fomos cozinhando em modos de brain storming, percebi mais do que nunca que o processo criativo alimenta-se da dúvida e da insegurança.  Atulhada de leituras e referências, a escassas semanas do prazo acordado para concluir – já fora de prazo – a sua tese, a Erinç ainda não fazia a menor ideia de qual iria ser o desenlace de tanta pesquisa.  No entanto, lá conseguiu – com persistência, sentido de missão e honestidade intelectual – ir somando uma a uma as peças, recusando qualquer atalho ou “assemblage” preexistente. E sabem que mais, a coisa, por um estranho milagre resultou... Ao final, lendo aquilo de uma só vez, parecia que aquele era o único rumo possível. Que aquela tese tinha nascido para aquela conclusão...

Claro está que depois de a vender como um todo coerente e fluído, a Erinç guardou para ela a verdadeira substância daqueles sete anos de dúvida e esforço.

Tudo isto, para dizer o quê?

A vida tal como o ser humano é um composto, por vezes, muito caótico. Pelo menos a minha vida e a minha pessoa. Há dias em que quero uma coisa para querer o seu contrário no dia seguinte.  Ainda há dois dias vendia a alma para poder estar a sós, hoje já vendo a mesma para sentir intimidade de peito.  Se coerência houver, ela só pode ser decifrada numa perspectiva de conjunto.

Tudo isto para dizer o quê?

Para dizer que a existência desta pequena gruta, só faz sentido se eu me autorizar a ser aqui totalmente sincero. Não quero temer nem a sinceridade nem a incoerência. Deixo ao tempo a estranha magia de pôr em perspectiva e dar sentido a este aqui e agora.

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