Quem viu o filme Wall Street saberá aquilo a que me refiro quando digo que a
ganância está hoje no centro de todos os desafios políticos e económicos que
enfrentamos.
O que é que faz com que, hoje em dia, se entrevistarem
jovens chineses, russos ou europeus que o valor que mais norteia os seus
objectivos seja o de ter dinheiro?. Isso à margem de qualquer lirismo, é a
realidade e é bom que saibamos olhar para esse cenário como ponto de partida para
uma reflexão que não seja somente ideológica.
O estranho é que historicamente todas as
utopias clássicas contestam o dinheiro ao mesmo título que a família e a
propriedade privada: o santo é aquele que não tem não tem nada mas que é tudo.
Cristianismo e Islão unem-se ao condenar os empréstimos com juros e será
necessária a reforma calvinista para permitir a abertura de bancos.
Mas o problema das ideologias é que se
esquecem que o ser humano não é perfeito: seja qual for o sistema político,
sejam quais forem os modelos morais e cívicos, existirão sempre ovelhas negras
no rebanho. Quer estejamos a falar de stock
options ou de salários.
Quer isso dizer que a história nos condena à
injustiça?
Não.
Não havendo sistemas perfeitos, não deixo de
acreditar que estamos na aurora dum novo principio social e económico. Um
modelo que reabilite um noção basilar de troca e partilha.
Estou convencido de que o modelo a desenvolver
passará pelo estatuto de accionista empresarial: garantir que o interesse do
trabalhador esteja indexado aos rendimentos da empresa. Tudo isso, com a
salvaguarda dum principio base de transparência.
Vejam que parte da satisfação ou frustração
que o dinheiro permite é sempre simbólica desde que, sejam garantidos patamares mínimos de
subsistência.
A esse respeito, apetece-me aqui citar um inquérito efectuado
numa universidade norte-americana junto a um conjunto de estudantes. Chegou-se
à conclusão de que uma larga maioria preferia receber 50 mil dólares se o
vizinho ganhasse 25 mil mais do que ganhar 100 mil face a um vizinho que
ganhasse 200 mil.
Assumindo que o dinheiro serve hoje para
garantir um estatuto na comunidade o que importa é salvaguardar esse sentido de
pertença. Se houver alguma justiça na
empresa, o trabalhador não se importa de ganhar menos. Idem para o Estado: para quando contas públicas, que incluam as
remunerações de qualquer funcionário, disponíveis online?
É imperativo que as pessoas confiem no sistema
e para tal duas coisas são essenciais: exemplaridade e transparência.
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