Estava há dias a ver um debate televisivo
envolvendo a ministra da agricultura acompanhada de dois ou très casos de
sucesso agrícolas: todos eles eram agro-industriais; daí que o credo vendido
naquele debate fosse o da necessidade de aliar agricultores a industriais já que
só esses segundos são capazes de criar um valor acrescentado ao produto final.
Começo já por dizer que não sou contra essa
visão embora, na prática, observe que as agro-indústrias raramente favorecem o
interesse comum: dão pouco trabalho às comunidades locais e quando dão é
precário; têm um impacto ambiental duvidoso; produzem alimentos de qualidade
questionável.
Quem aqui fala das agro-indústrias fala
igualmente das cadeias da grande distribuição que ajudam a escoar toda a
produção: Já agora, é bom saber que 80 por cento da alimentação das famílias é
o fruto das agro-indústrias. E mais uma
vez, não tenho nada contra esse facto a não ser que o consumo em massa
associado à produção em massa vivem dos pressupostos que fazem com que um terço
dos alimentos comprados vai para o lixo: o equivalente a cem quilos por
português e por ano.
Apesar de tudo isto ser lamentável, não deixa
de ser o produto de uma economia liberal que vive das escolhas dos
consumidores; agora aquilo que efectivamente me consterna é observar a forma
como a ministra da agricultura se mostra incapaz de fazer com que essas agro-indústrias convivam com a pequena e média agricultura local.
“É preciso concentrar a produção”: eis o
slogan desta ministra como de outros. E embora ache que a solução possa e deva
incluir uma maior concertação a todos os níveis, também me ocorre que as
soluções mais sustentáveis para o futuro, para as comunidades, para a qualidade
daquilo que comemos incluam um repensar o cabaz alimentar e as
politicas de apoio à pequena e média agricultura.
E é todo o contrário que se avizinha porque
por detrás do “é preciso concentrar a produção”, vêm novas formas de
condicionar o acesso a apoios comunitários a estruturas com dimensão mínima.
Portugal tem hoje um índice de concentração
agrícola de 18 por cento quando a média europeia é de 43. Daí que para
rivalizar em mercados alargados, à semelhança do que os nossos vizinhos
praticam, seja preciso concentrar a produção, mecanizar a exploração, adubar, investir em estufas, em sementes
rentáveis, dispor de meios de distribuição que permitam ser reactivo, etc etc.
Quando vejo a recente polémica da marca Findus
que vendia carne de cavalo enquanto carne de vaca acho que os perigos da racionalização
estão à vista: tanto mais que por detrás dum produto industrial esconde-se, neste
caso, uma boa dúzia de intermediários. Todo um sistema que raramente assume a
qualidade como principio de base.
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