Bom, em boa hora que os saldos estão a chegar
ao fim porque devo confessar que o “zaraboy” que há em mim, estava na iminência
de atirar os belos princípios para o lixo a troco de umas camisas por menos de
dez euros.
O meu dilema em comprar mais um trapinho não
tem só que ver com o impacto ambiental que a massificação do consumo de algodão
induz. Neste caso, tem que ver com o
facto de uma mega marca como a zara dar cabo de uma série de pequenos e médios
produtores e retalhistas.
Convenhamos que os centros urbanos das nossas
cidades estão cada vez mais parecidos uns com os outros. E por detrás dessa imagem há toda um conjunto
de fileiras profissionais que deixou de dar trabalho a muitas gente levando igualmente a uma perda efectiva de qualidade de vida.
Aliás, há dias, vinha de carro com o meu amigo
Pierre, quando ali parados na avenida junto a uma loja
de luxo francesa, o Pierre partilhou comigo ter uma amiga em Paris que é estilista para a dita grife. É verdade que quando fui viver para Paris, também acabei
por conhecer engenheiros que trabalhavam para o sector automóvel; designers, criativos e artesãos empregados nos sectores da moda, do luxo ou da decoração.
E é pensando na assimetria que separa, neste
registo, Paris de Lisboa que me surge uma certa culpa ao consumir em peso
marcas baratas feitas a baixo custo a dez mil quilómetros daqui.
Contudo...
Sim, contudo, minora-se me a culpa quando vejo
que dos mil euros que custa um fato de pronto-a-vestir de luxo, somente oito
por cento remuneram os custos de confecção; desses mil euros, o custo da mão-de-obra eleva-se a somente 35 euros, ou seja 3,5 por cento do custo final; além dos oito por cento para a confecção,
soma-se o IVA, mais 20 por cento de custos da marca – que aí sim remuneram profissionais
da comunicação e afins – para além de outros 25 por cento para cobrir toda a
distribuição: Fica uma margem de revenda de 30 por cento.
Confesso que estes números me chocam.
Choca-me que somente oito míseros por cento do
preço sirvam para suportar toda a confecção dum artigo considerado de luxo.
Choca-me que o revendedor ganhe dez vezes mais do que o confecionador numa mesma peça.
Choca-me que o revendedor ganhe dez vezes mais do que o confecionador numa mesma peça.
Choca-me que o grosso das profissões envolvidas
na indústria da moda sirvam para atiçar o desejo mais do que para garantir uma diferenciação qualitativa do produto final.
Choca-me que para conseguir suportar os custos
fixos de funcionamento um restaurador deva conseguir vender o seu prato a pelo
menos quatro vezes o preço de custo.
Choca-me que o luxo mundializado considere sair
da Roménia ou de Portugal . caso da vuitton -
por acharem que pagar 400 euros mês a um trabalhador é demasiado.
Choca-me que nós consumidores, sejamos tão
básicos.
Será lírico considerar que o luxo está nos
respeito que é colocado nos pormenores da confecção mais do que nas projeções
que permite?
Qual é afinal a diferença entre uma camisa zara ou uma da kenzo?
Convido o maior número a verem, com atenção, esta reportagem francesa que desvenda os bastidores da indústria do luxo e que deu origem a este post:
ResponderEliminarhttp://www.dailymotion.com/video/xw7z6g_envoye-special-le-luxe-les-coulisses-d-un-savoire-faire_news#.UQVxY47yfIY