Pronto pronto, é verdade.... Cá vai uma
pequena incoerência: depois de denunciar o interesse dos media pelo fenómeno gangnam style da autoria do Psy, aqui
estou eu a dedicar-lhe um post.
Já agora, para os mais distraídos, o fenómeno
em causa consiste numa música coreografada que foi visionada mais de mil milhões
de vezes no youtube. E porquê?
A questão impõe-se especialmente por se tratar
de um titulo cantado em coreano e que não parece, à primeira vista, trazer nada
de novo em campo algum.
Mas um
olhar mais atento oferece-nos aqui um excelente exemplo daquilo que muitos
chamam agora de cultura karaoke, entenda-se uma cultura da imitação e da
apropriação.
O partilhar no facebook passou a ser o comportamento padrão do consumidor com o
produto cultural. E no caso desta coreografia estamos claramente perante um
produto criado com o intuito de ser não apenas imitado como caricaturizado.
E esta é uma das consequência mais claras
destas novas culturas digitais: o valor da obra está totalmente entregue ao
destinatário em detrimento do papel historicamente consagrado ao autor criador.
Há que recordar aqui que desde o século XVIII, toda a indústria cultural estava centrada na noção de propriedade
intelectual que por sua vez premiava as noções de autoria, génio e
criatividade. Isso, aqui na Europa, porque em abono da verdade na Ásia,
nomeadamente na China, essa noção sempre foi desvalorizada perante a lógica da
obra comum; ou seja, a criação é invariavelmente vista como o produto duma
influência cultural pré-existente.
Portanto esta desvalorização da noção singular
de autor contrasta como o papel dado à reapropriação individual do produto
cultural, aqui materializada com o karaoke, contrapeso aceitável a culturas frequentemente
repressivas.
E portanto o que se observa com o sucesso
planetário deste hit made in korea, é
a consagração de uma cultura da paródia que atira para as urtigas a noção
reverencial de autoria cultural.
Quantos de nós já não acedem ao original por
via da sua cópia ou remix; são séries, músicas e filmes que assinalam de
forma clara a mudança dum principio de cultura vertical para uma cultura
horizontal.
Por detrás desses padrões encontram-se os
princípios dum consumo colaborativo que poderá ser aqui visto como o advento
dum novo paradigma societal.
Resta contudo uma questão de fundo por
resolver: como remunerar a criação?
É que enquanto a google nos vende o seu Conteúdo
Gerado pelo Consumidor – User Generated Content – como marco de uma nova
cultura participativa, observa-se que a mesma google e afins estão hoje a criar
oligopólios potentíssimos que em nada retribuem a cadeia de criadores outrora
salvaguardados pela propriedade intelectual.
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