Pois é, se o Gangnam Style foi o hit
do ano, parece que o país de onde nasceu também terá sido a revelação de 2012. É que se há umas semanas, quando escrevi o meu
post anos 80, acusava os países
emergentes de não serem portadores de novos modelos culturais, vejo-me agora
confrontado à evidência contrária; parece que o made in Korea está na moda.
Note-se que para além do fenómeno Psy, há uma
enxurrada de bandas sul coreanas, conhecidas por K-pop a encher estádios de
adolescentes mundo fora. Idem para as novelas locais que circulam principalmente
por toda a Ásia. A estratégia do soft
power seulita – uma espécie de diplomacia cultural – passa por criar produtos ajustados a
realidades locais e que são descomplexadamente pensados como a extensão de uma
estratégia económica.
É bom relembrar que a Coreia do Sul se tornou
igualmente uma das sociedades mais complexas do mundo nomeadamente pelo seu
elevadíssimo grau de dependência tecnológica. Note-se que a par desta onda
coreana estão marcas como a Hyundai ou a Samsung que só por si corresponde a um
quarto de toda a economia nacional.
Por detrás deste sucesso escondem-se condições
de vida absolutamente incríveis que se traduzem no facto de Seul registar o recorde mundial de suicídios.
Não impede, à margem de caricaturas, que a capital sul coreana tenha igualmente passado a ser uma cidade empenhada em atrair turistas de todo o mundo através da sua oferta cultural. E é
portanto com estratégias que misturam ultraliberalismo económico e politicas
estatais dirigistas que se assiste mundo fora à chegada de boys bands k-pop,
irrepreensivelmente coreografadas.
Convido quem não conhecer o fenómeno, a descobrir
o caso emblemático dos Exo K e Exo M ( http://youtu.be/A9u1jXZ7iRk
). Em causa estão duas bandas que interpretam os mesmos temas – os primeiros em
coreano e os segundos em chinês - e cujos membros são os clones uns dos outros para
não falar de coreografias rigorosamente idênticas.
Além desses clones, tudo é ali feito para que
qualquer intérprete possa ser intercambiado em qualquer altura sem alterar uma vírgula ao sucesso
da banda.
É certo que para um ocidental, esta estratégia
consegue ser chocante por muitos de nós se terem construído com referências
icónicas a autores e a obras irrepetíveis.
Mas novos ventos sopram no mapa mundial da cultura e é bom que nos
mentalizemos que sempre que descarregamos e consumimos faixas de música via mp3
sem sequer conhecer ou reconhecer o nome do autor, estaremos a contribuir muito
diretamente para esta indústria mundializada da cópia da cópia.
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