Nem sei muito bem que pensar acerca do debate
que tem agitado a sociedade francesa em torno do casamento homossexual.
Devo confessar que nunca me senti implicado na defesa dessas causas; por outro
lado, admito que sou altamente credor de todos os activismos passados sem os
quais, é bem possível que nunca me tivesse autorizado a ser eu próprio.
Mas observo com algum desconforto a necessidade
dos grupos minoritários serem incluídos na norma: é gays a quererem casar; gordas a também ter concursos de misses onde
replicam os trejeitos e códigos de conveniência; é os velhos a quererem
ainda parecer jovens e desejáveis...
Enfim, não há minoria cuja luta não seja a de ser assimilada à norma.
E eu, a título individual, chamo a mim o
direito de subverter essas mesmas convenções mais do que querer integrá-las.
É verdade que se olharmos para a história do
século XX, desde o voto feminino ao fim
das segregações raciais, muito se
deve às lutas assimilacionistas. Contudo, há um lado em mim que não consegue
fazer o luto dos ideais do Maio 68. Reinventem-se as convenções mais do que
querer legitimá-las com a vontade de as integrar.
Que me interessa a mim casar desde que
legalmente os meus direitos estejam equiparados aos de qualquer outro casal?
Tanta forma hoje de reinventar o viver juntos:
desde comunidades; casais de duas, três ou quatro pessoas; passar a ser uma espécie
de tio do filho da minha amiga mãe solteira com quem partilho casa; ser o neto
emprestado da vizinha de cima que vive só; adoptar um companheiro em vez de
casar com ele... Haja inventividade e liberdade.
Porque se alargarmos o espectro, verificamos
que de há 70 anos a esta parte, nada mudou; as categorias sociais dentro das
quais nos movemos são as mesmas. E isso para mim, traduz um empobrecimento do
tecido social.
É que, ao final, nunca andamos muito longe do
politicamente correto: os gays sabem ser
pessoas socialmente integradas; as gordas também sabem ser giras;
os velhos até são bronzeados e dinâmicos... E que mais?
Não haverá antes forma de também reinventarmos
esses padrões de felicidade, beleza e normalidade?
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