Se 2012 era alegadamente o ano do fim do
mundo, 2013 apresenta-se como o ano de todas as incógnitas.
Conseguirão os Estados Unidos criar condições
para o reembolso da dívida?; a China que investiu quinze por cento do seu
crescimento no imobiliário – os Estados Unidos no pico das subprime eram nove por cento e a Espanha doze – conseguirá manter os
mercados necessários ao seu desenvolvimento?; as jovens democracias árabes, cujas
juventudes se mantêm arredadas do crescimento económico, conseguirão resistir
aos apelos da revolta?
Por mais que colida com a percepção empírica
das populações, parece que no mapa atual, a Europa reúne condições para ser um
dos ponteiros da estabilidade mundial, nomeadamente em matéria económica. Já se
questionaram por que razão é que apesar de toda a instabilidade reinante, a
descida dos ratings deixou de
encontrar uma expressão nas taxas de juro com que se continua a emprestar
dinheiro aos países europeus?
No entanto, é certo que se há oportunidades em
aberto que elas devem ser trabalhadas; e se questionarmos qualquer dirigente ou alguém no meio da rua, tornar-se-á difícil obter uma resposta à
questão: qual é hoje o projeto europeu?, quais as áreas estratégicas para o
futuro da nossa economia?
Que estratégia em termos de independência
alimentar?, que política industrial ou energética?... Alguém sabe qual o
potencial da economia digital?, no caso português, depois
de termos enterrado vivos os moldes, a cutilaria, o têxtil, a cerâmica, as
pescas, a agricultura, a indústria naval, que nos resta?
Fala-se do mar – esse eterno companheiro das
horas difíceis -, das renováveis, qualificar a fileira automóvel, o turismo e
tal mas poder-se-á falar em estratégia?
Contudo, hoje mais do que nunca, seria errado
olhar para as respostas à crise numa perspectiva meramente nacional. Parte
do problema está em que à margem da requalificação das economias locais,
essencial para a dinamização territorial, qualquer estratégia económica deverá
daqui em diante ser pensada à escala europeia. E é verdade que o curto prazo
anda a matar o longo prazo. Quanto mais é preciso pensar Europa, mais os países
pensam nacional. Continuamos a navegar de cabotagem: demasiada reação e muita
pouca construção.
E esse défice de resposta estratégica
afigura-se me como uma consequência natural da falta de atores à altura: os
nossos políticos são fracos; as estruturas sindicais – essenciais ao
desenvolvimento industrial alemão por terem sabido comprometer-se com a gestão empresarial – são
perfeitamente anacrónicas quando não folclóricas; e o eleitorado tem esse
eterno apego ao “centrão” alimentado por um medo endémica à mudança. Como é que
se explica que ao termo de quase 40 anos, as maiorias democráticas continuem
invariavelmente a creditar PS e PSD de dois terços das previsões de voto?
Perante este cenário meio catastrofista,
apetece-me aqui destacar duas chaves para desbloquear este impasse.
Primeiro, a um nível organizacional: para além
do chamado choque de competitividade, é importante as estruturas que nos
tutelam perceberem que têm de abrir mão de tanta rigidez: no momento em que o
individuo emerge na sua individualidade, na sua inventividade; numa altura em
que o digital está a fazer explodir uma economia totalmente
nova: circular, colaborativa, de trocas... Quantos projetos não têm morrido em
virtude da incapacidade dos institutos de apoio ao empreendedorismo não terem sabido ajustar-se a este fluxo
criativo?
O Estado é, neste momento, um factor de
esterilização de muito do que está a acontecer no terreno. É bom que se entenda
quanto antes que estamos numa fase de metamorfose em que o futuro é a
contestação do nosso presente.
Depois dum choque organizacional, impõe-se, a
montante, um choque cultural ou psicológico.
É comum nas culturas não anglo-saxónicas sermos permanentemente
confrontados aos nossos insucessos. O
insucesso escolar, amoroso, económico; todos pesam na hora em que temos de apresentar
um currículo. Numa altura em que é
particularmente importante apoiar e enquadrar os esforços das forças vivas,
verifica-se que o colectivo adiciona dificuldade à dificuldade.
Houve a esse respeito, um estudo bastante
interessante concluído o ano passado por uma equipa de investigadores norte-americanos. Foram criados dois grupos de alunos com a mesma idade. O primeiro, foi exposto a exercícios de
extrema facilidade para além dum role de elogios por parte dos professores; já
o segundo, foi confrontado a exercícios
bastante difíceis, ou seja expostos ao insucesso, mas igualmente acompanhados
de palavras de incentivo e valorização. Ao termo de dez anos, verificava-se que
o primeiro grupo fugia das dificuldades enquanto o segundo as procurava.
É imperativo que saibamos mudar a nossa forma
de olhar e enquadrar as dificuldades porque perante os tempos incertos que se
avizinham, ninguém estará ao abrigo da necessidade de se reinventar ao longo da vida. E está
visto que a cultura da esmola não gera nem vitalidade nem devolve perspectivas
a quem já se está a afogar nas dificuldades dum quotidiano precário.
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