Por acaso estive
recentemente em dois convívios onde estavam presentes crianças; num dos
casos, era um jantar caseiro em que para nos podermos reunir entre adultos, os
dois rebentos foram conectactos à consola de jogos, ligada ao mega plasma: de
facto, bastou ligar a bomba e pumba: calaram-se de língua de fora e começaram a
pôr os avatares a voar por todos os lados.
Já desta segunda vez, o cenário repetiu-se, só que à mesa do
restaurante: os dois irmãos passaram o almoço todo escondidos atrás da consola portátil
a explodir inimigos na maior das calmas. Nem os ouvi falar uma única vez.
Também eu, em tempos,
tive a minha fase playstation /
dragonball: durou um tempo antes que me levantasse, espreguiçasse e
seguisse o meu caminho. Quiçá estes jogos não passem de laboratórios em que se afinam
capacidades replicáveis noutros contextos.
Contudo, olhemos para o exemplo japonês, sem dúvida uma das sociedades mais tecnologizadas e que, recorde-se, foi das mais violentas do século passado. Pois note-se que neste fim-de-semana, houve
eleições em que mais de quarenta por cento dos mais jovens se abstiveram, permitindo
com isso a eleição de um governo conservador de direita (pró-nuclear).
A capacidade daqueles
jovens se projetarem na vida política do seu país é nula. Haverá algum tipo de
correlação entre o desinteresse pelo ativismo social e o incremento de bolhas
individuais suportadas pela tecnologia?
Ter-nos-emos tornado
na “sociedade do espetáculo” do Guy Debord?
Não sei.
Sei que o jogo se
tornou essencial à vida de qualquer ser humano e que quem nos vende espetáculos
e imagens sabe-o muito bem.
Resta saber se este
labirinto de espelhos em que os nossos egos refletidos se misturam com tantas
imagens não nos impede de distinguir originais de representações.
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