Sexus
Politicus: é o nome de um ensaio assinado por dois
jornalistas franceses e que, há coisa de cinco anos atrás, gerou alguma polémica
aquando a sua publicação. Devo dizer que gostei muito desse estudo, não apenas
por se tratar de um trabalho de investigação sério como pela clareza com que evidenciava algumas tendências de fundo na hora de olharmos para as relações
que sempre existiram entre poder e sexo.
É certo que a França poderá, na matéria, ser
um microcosmos que ilustra um modelo que lhe é próprio. Não há por isso que
tentar aqui extrair conclusões para a realidade portuguesa. Mas a verdade é que
até parece que este ensaio adivinhava o desenlace da carreira política de
Strauss Kahn, por sinal abundantemente
citado como entusiasta frequentador do seleto clube Chandelles, em Paris, um espaço discreto dedicado à libertinagem entre casais de um mesmo meio.
Sei que embora o então presidente francês, Nicolas Sarkozy, fosse tido como uma personalidade muito discreta em matéria de
vida privada, não deixei de olhar para o seu casamento com a Carla Bruni, como
uma consequência natural de uma certa tradição republicana. Desde sempre que o
casamento sagra interesses estratégicos: se outrora a burguesia poderia namorar
alguma aristocracia com o intento de legitimar interesses comuns, hoje a mesma
lógica mantém-se; só que em vez de alguns disporem de terras e outros de títulos, estaremos hoje perante personalidades públicas face a políticos ou empresários.
Uma das tendências de fundo assinalada
pelo Sexus Politicus é precisamente a
sempeterna atração que jornalistas e políticos exerceram uns para os outros. A pretensa cancela que os separa pode, em
certa medida, ser aqui vista como um espelho do desejo.
Recordo-me ainda de ter ficado especialmente
surpreendido com os costumes do presidente Mitterrand. Não apenas
tivera uma filha ilegítima criada nos corredores do Eliseu, como a própria mulher desde
sempre que vivia com o seu fiel companheiro de peito. O amigo da primeira dama, português de origem, partilhava igualmente o quarto da Danielle Mitterrand como se sentava ainda à mesa presidencial para jantar, sendo que fora durante mais de vinte anos o motorista privado do presidente francês.
Tudo isto eram coisas comuns, que se sabiam
mas não comentavam.
Separar sexo do amor e amor do matrimónio é
algo que só choca uma certa franja social devidamente catequisada; porque no
tocante à elite familiarizada com o poder, é sabido que as convenções só servem para comprar alguma ordem social.
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