Nasci em Paris; cresci
a bem dizer sem família a não ser a nuclear; já me senti em casa em muitos
sítios; já fiz minhas muitas línguas; ao
ponto de hoje nunca saber responder àquelas perguntas simples do tipo, és de
onde?, que fazes?, que queres?
Tenho essa veia
emigra de cigano vagabundo.
Mas a verdade é que
há uns anos, escolhi Lisboa como casa. Não queria perpetuar esse padrão; queria
ver crescer os meus sobrinhos e partilhar a velhice dos meus pais.
Queria ter uma casa
com raízes e árvores à volta.
E, sem certezas, continuo
apegado a essa vontade; masoquistamente até.
Se me perguntarem
por que razão é que é tão difícil fazer com que as árvores cresçam neste jardim,
responder-vos-ei: não sei.
Mas partilharei,
assim do nada, a seguinte reflexão...
Em tempos fui correspondente
de imprensa. Cobri feiras têxteis, de turismo, comi petit-fours... E sempre me questionei: então mas se no século
passado, o tweed inglês fora
sucessivamente ultrapassado pela elegância italiana e agora pela criatividade
agressiva espanhola, que é que impede aqui a pátria lusa de também ela impor as
suas damas nessas imensas feiras?
Tenho de ter aqui a
honestidade de dizer o que acho: a
verdade é que os empresários que nos representam, além-fronteiras, nesses certames
nem sempre são os mais bem escolhidos; as estruturas como a ANJE ou a AICEP
revelam-se tantas vezes autistas e incapazes de verem o país além dos seus
próprios circulos de influência.
Peça a um gestor de
topo nacional que vos explique porque é que o metro quadrado de tecido italiano custa cinco vezes mais do que o mesmo
metro quadrado de tecido português; quando todos lhe dirão que a qualidade
nacional é óptima. Já chega de achar que a culpa é dos outros. Neste caso, se
culpa há, é de quem não sabe valorizar a singularidade nacional e não a sabe
vender.
Por exemplo, os desfiles de moda da ANJE em Paris: do
Filipe Oliveira Baptista, do Luís Buchinho, da Fátima Lopes só para citar
alguns. Alguém aqui sabe quais os custos e retornos que representam?
Faz sentido enviar
uma comitiva nacional só para devolver a ideia errada cá para casa, de que a
moda nacional se exporta. Será que o Felipe Oliveira Baptista tem pelo menos o
cuidado de confeccionar as suas peças com matéria-prima nacional?
A resposta é não.
E se quebro aqui um
certo dever intimo de reserva, é porque estou farto de ver gente a ter de
arrancar-se a este país porque os nossos dirigentes seguem estratégias erradas;
porque as pessoas certas estão nos sítios – e países – errados; porque as
estruturas de apoio à internacionalização nunca passaram de autênticos
mausoléus que raras vezes sabem apoiar a criatividade emergente neste país.
Portugal é uma mina
de ideias e bom gosto; não seremos os únicos, com certeza. Mas parece-me
por demais evidente que temos de sanear e redinamizar os mecanismos de apoio à
criação e redefinir um marketing que traduza a real cadeia de valor
acrescentado que caracteriza o made in
Portugal e o made by portuguese.
Comigo, embora eu tenha a vontade de escolher, dou-me conta que são os lugares que me escolhem...
ResponderEliminarParabéns pelo prémio que te coube no sorteio, da Árvore de Natal da Blogosfera!! :)
ResponderEliminarEu é que agradeço todo o esforço envolvido nesta iniciativa que deixa um excelente exemplo de mobilização e vontade de partilha. Muito obrigado.
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