Descobri, recentemente, o site de auto-publicação,
escrytos.com, por via do qual passa a ser possível publicar ebooks sem custos nem intermediários. Era
de prever que também aí, os novos suportes digitais viessem revolucionar a
nossa relação não apenas à leitura como a toda a substância e simbologia do livro.
Recordo que ainda há uns anos, era comum ver
as casas decoradas com os DVD’’s
que já tinham destronado as VHS’s. Noutro canto, a aparelhagem nunca andava longe
da coleção de CD’s mas, ainda assim, o ex-libris da sala sempre foi o livro.
Coloca-se hoje a questão de saber se o papel
saberá resistir a esta razia minimalista, que já enterrou as enciclopédias
escritas e arrasta agora toda a imprensa diária.
Mas do outro lado da página, do lado de quem a
escreve; qual poderá ser o impacto desta revolução digital?
É de esperar que tal como se descarregam hoje
faixas de música sem lhes conhecer os autores, se poderá em breve ler vários
tipos de escritos rendidos a novos formatos.
É bom, contudo lembrar que o romance literário veio, também ele no início do século XX, substituir-se à poesia e ao teatro
como género maior. Ao longo do século passado, o romance foi ganhando a
capacidade de abraçar todos os géneros: inquérito, documentário, conto, ensaio,
autobiografia; todos podem hoje ser editados como romances.
Resta que os códigos e hábitos que definem a
escrita deste início de século XXI vieram, em certa medida, alterar as regras
do jogo: um escritor é hoje influenciado pelo cinema, pelas séries televisivas,
pela internet; da mesma forma como esses géneros são credores da escrita e das
imagens. E isso configura uma revolução face a gerações passadas de
escritores predominantemente influenciados pelo género literário.
Perante tanta explosão em latência, questiono
se deveremos obrigar escritores em potência à leitura de livros em papel com a mesma legitimidade com
que se obriga um estudante de belas artes a aprender a desenhar em papel e ao
vivo antes de se agarrar ao rato e aos conceitos.
Ridículo, não é?
E agora fica a questão: escrever-se-á da mesma
forma como um lápis do que com tinta permanente ou com um teclado?
O ritmo e a musicalidade com que as ideias
brotam nos dedos será o mesmo?
Não estará em risco aquela dimensão espacial,
temporal e solitária que faz do livro impresso aquele parêntesis demorado?
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