Já há uns quantos textos que ando aqui a
brincar com a minha noção de poder; chamo-lhe elite, igreja ou cultura... O
constato é o mesmo: algo não funciona.
É bom, antes de prosseguir, recordar que vimos de
uma tradição mesclada de salazarismo e de taylorismo caracterizada por
hierarquias fortes. Enfrentamos hoje a
emergência de uma nova economia digital extensível a modelos de
horizontalidade, cooperação fluída e trocas parciais. Portanto há aqui um
choque profundo nas categorias com que fomos olhando para a vida e para os seus
requisitos.
Face a este desmoronar, é a própria noção de
poder que deve aqui ser repensada: se numa visão vertical, poder é controlar,
numa perspectiva horizontal poder é estar no centro para regular. Regular em
função do todo envolvente sem deixar de ter o Ser Humano, na sua dimensão
universalista, no centro da ação.
Para além de revermos a noção de poder, quiçá
também se imponha uma redefinição da pobreza e até de trabalho ou
auto-realização: porque é sabido que o
futuro que nos aguarda não reserva um trabalho remunerado para cada um de nós. Em nome da solidariedade das nossas
sociedades deveremos aprender a
valorizar participações cívicas não retribuídas; isso face a um modelo que até
hoje nos foi ensinando que basta consumir para existir.
O estado a que deixámos chegar a nossa dívida,
a situação ambiental e social obriga-nos hoje a repensar a relação que
queremos promover entre proveitos económicos e proveitos sociais. Com um
crescimento de um a dois por cento para os próximos anos, rapidamente
deixaremos de dispor de verbas para suportar as politicas de saúde ou as próprias
reformas.
Para além da inexistência de recursos materiais,
é a própria cultura dos clientelismos que chega agora ao fim. Todos se foram
habituando a preferirem um juiz que defenda os interesses do grupo de pertença
a uma qualquer noção de justiça; espera-se do professor que vá passando os
miúdos sem real preocupação com a qualidade do saber e ao nível político
quer-se é que a fiscalidade seja agravada na porta ao lado.
O próprio sistema
político foi-se ajustando a essa demanda, transformando-se numa máquina de
sedução.
Recorde-se aqui aquela velha máxima de Winston
Churchill: “ O político pensa nas próximas eleições; o estadista pensa na próxima geração”
É toda esta noção de bem comum que foi
gradualmente cedendo lugar a um calculo de interesses tornando-se hoje a imagem
de marca das elites. Enquanto isso, estão a nascer na rua núcleos de uma ação
repensada à escala do interesse geral. O
político está a ser contornado por organizações civis: e isso quer aqui como no
resto da Europa do Sul ou nas primaveras árabes.
A democracia nos termos em que a conhecemos
está hoje em crise: as eleições
confundem-se agora com as insurreições na hora em que se procuram definir
modelos ideias de representatividade. Se eu já não acredito na força do
direito, reivindico o direito à força.
Perante isso, uma solução: a resiliência.
É a força dos territórios que poderá criar
esta resposta necessária de resiliência territorial: Como é que os japoneses
enfrentaram o drama nuclear de Fukushima?, como é que a sociedade norueguesa
aprende a lidar com o facto de Breivik ser um dos seus?, como é que a Europa se
reconstrói em fase de declínio?
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