quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A comida


Se há coisa que, nos últimos anos, sofreu profundas mudanças no meu dia-a-dia foi a minha relação com o alimento.

Não é aliás um processo que se encontre encerrado: até porque dou por mim, às vezes, a censurar esta visão higienista e pouco sensual que tenho ganho face à comida.  Muito saudável; muito regenerador muito muita coisa mas, a certa altura, pouco prazeroso.

Há face a essa análise várias interpretações: uma vai no sentido de acharmos que é o padrão dado como normal que deve ser repensado e que aquilo que é hoje visto como ascético será um dia o novo padrão de uma sociedade mais inteligente;  e há depois o lado  bon vivant: aquele que vê no alimento uma ligação primária ao prazer: E eu, confesso estar no entre dois, mas mais inclinado a ter cuidados múltiplos para não ganhar barriga.

Mas é verdade que esta coisa da barriga lisa também é em certa medida uma ditadura contranatura.  Noto que fomos, ao longo dos últimos anos, desenvolvendo uma relação de ansiedade face ao alimento. De tal maneira que foi surgindo todo um “engenhês” alimentar. Se em tempos se comia comida, passámos a alimentarmo-nos com alimentos e estamos agora a caminho da nutrição à base de nutrientes com nomes muito pouco apetitosos. Já lá vão as batatas e tomates, agora ingerimos ómega três, vitaminas B12 e minerais como o zinco ou o ferro.

Hum... Miam miam

Este é seguramente um discurso criado por uma indústria emergente ligada à saúde que nos brinda com pérolas do género “alicamentos”. Mas interessa é que toda esta terminologia passou a redigir o guião de uma nova “higiene alimentar”.

Contra mim falo, é evidente. Agora deixo aqui uma dúvida: Não estaremos numa fase embrionária do discurso saudável que ao longo do seu amadurecimento deverá incorporar algo de tão vital para a saúde das pessoas como o simples prazer? 

Sendo certo que o prazer também não tem de ir de par com alimentos pouco saudáveis. 

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