terça-feira, 2 de outubro de 2012

O perdão da dívida


Não entendo como é que com tanto especialista afecto à tutela ainda não se tenha percebido que está na hora de chamar um cão um cão.

Quem é que acredita que Portugal virá um dia a saldar a totalidade das suas dividas? Quem diz Portugal, diz ainda qualquer outro estado europeu com especial destaque para os países periféricos.

A totalidade das reformas até agora implementadas pela troika vive de um conjunto de pressupostos a meu ver ingénuos. O principal consiste em manter a farsa de que a totalidade da dívida é para ser paga. 

Olhemos para o caso paradigmático da Grécia que se tem esfolado em sacrifícios e a quem foram "emprestados" cerca de 500 mil milhões de euros, o equivalente a  dois anos e meio de PIB. Pois essa mesma Grécia a quem se perdoou tardiamente e numa avalanche de exigências mais de 70 por cento da dívida, acumula hoje um passivo externo superior ao de há dois anos atrás. 

Parece-me evidente, no que diz respeito à Grécia, que a resolução do problema deveria ter passado por um perdão atempado e sensato da dívida e pela criação de mecanismos que possibilitem o recurso a uma desvalorização da moeda nacional;  ou seja, a organização de uma saída apaziguada da zona euro.

É que por detrás da dramaturgia da crise que nos têm vendido, apregoa-se outro mito: o de que um Estado não pode falir e que tem, aconteça o que acontecer, que saldar as suas dividas. 

Falso. 

Os Estados, ao mesmo título que empresas e particulares, abrem falência. E enquanto não assumirmos esse facto com clareza estaremos aqui com um discurso autista que já não convence ninguém. Portanto consumada que está a falência de um conjunto de países, temos, tal como se de um particular ou empresa se tratasse, que identificar recursos que permitam repor uma capacidade de produção e de repensar um valor exequível de divida a ser reembolsada; e isso, para o próprio bem dos credores.

Em vez disso,  insiste-se num discurso embebido de falsa moralidade: sobrecarrega-se o burro de carga, perfeitamente consciente de que não é a solução. Mas aquilo que interessa, actualmente, ao nosso executivo é dar a imagem de um governo voluntarista; que faz frente a não foge às suas responsabilidades, a ver, se com isso, os tecnocratas de Bruxelas e Troikastadt acedem a um perdão caridoso.  É que nem os nossos supostos dirigentes ainda acreditam nas soluções propostas. 

Só que o que não entendem, é que quanto mais tardia for a solução e quanto mais tarde se falar verdade pior será o chamado esforço de ajustamento. 

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