segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O casal da Procuradoria Geral da República


Desde que me mudei para Lisboa que me lembro de ver aquele casal estacionado à porta da Procuradoria Geral da República, em protesto contra uma alegada usurpação. Há ali naquela atitude algo que desafia todos os códigos da sensatez. É como se aquele homem, num determinado momento, habitado pela convicção de estar a ser injustiçado, tivesse feito uma jura interior de que não se deixaria abusar.

Há algo de corajoso nesta teimosia que resiste agora aos anos e às décadas. Tem nomeadamente o mérito de questionar transeuntes e condutores acerca das respectivas capacidades de combatividade.  Mas também há ali algo que me desconforta ao mais alto nível.

Quantas vezes no auge de uma irritação vislumbrei a possibilidade de levar até ao último reduto a minha capacidade de repor justiça naquela situação: hão-de-ver aquilo de que sou capaz. E lá me imaginava eu, ao termo de muitos esforços, a ver a minha persistência reconhecida. Casos houve em que sim valeu a pena, mas muitos houve em que a desistência venceu por não me querer alimentar mais daquele conflito.

No caso daquele casal, mesmo supondo que a causa deles seja justificada; supondo que amanhã o combate deles também seja reconhecido e resolvido: terá valido a pena?

Bem sei que este meu discurso pode ser aqui visto como derrotista; também sei que continuamos a educar os nossos filhos com estes credos do sonho comanda a vida e luta pelas tuas convicções. Eu também os cultivo no meu quotidiano mas também defendo a capacidade de fazer marcha atrás; e reconhecer que aquela opção foi um erro; de não insistir por um caminho que teima em se fechar a mim; quiçá a vida esteja apenas a querer mostrar-me que não há uma só forma de se ser feliz... E portanto face a este meu diletantismo reconheço que o empenho daquele casal afigura-se-me como uma vida desperdiçada em nome de um eu hei de lhes mostrar.

Saber desistir também pode ser bom; em última análise saber parar não tem de ser uma derrota tal como seguir em frente nem sempre é a solução mais corajosa.

Aqui fica, já agora, para trazer alguma factualidade a este relato, o porquê destes 17 anos de luta de Flora e Florindo Beja:

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Interior.aspx?content_id=558996

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