quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Os anos 80


Nasci em 1974. Para mim, a década de oitenta ainda está muito ancorada à infância. Razão pela qual quando fui recentemente a uma festa anos 80, optei antes por levar uma tee-shirt do Tintim mais do que uns collants da American Apparel.

Mas noto que os anos 80 têm-se revelado persistentes nesta sua capacidade de devolver, nem que seja só por uma noite,  a capacidade de perverter códigos sociais; de brincar com as aparências; de encenar a felicidade. Esta foi a última estação dos amanhãs gloriosos na Europa.

É que isto de ser feliz, é mais uma questão de futuros possíveis do que de presentes.

O que é certo é que os anos oitenta estão, para mim, ligados aquela cultura do “live fast, die young”, cujos ícones passam por um  Tom Selleck – da série Magnum -  fortalhaço, a conduzir um descapotável rápido e acompanhado de uma louraça mamalhuda. 

Digamos que transposta para hoje, esta imagem  teria poucas hipóteses de vingar; seria mais o mesmo Tom Selleck, desta vez a conduzir o carro de polícia – série Blue Bloods -  e com a mamalhuda no banco de trás por atentado ao pudor.

Então e se o “live fast die young” foi em tempos o grito de uma geração, qual será a assinatura deste início de século?

Eu diria: “... “

... Cujo melhor ícone é a Hello Kitty. Uma boneca que não fala nem tem história e que se fica pelo seu estatuto de coisa fofinha.  Para mim, a tríade “Sex, Drugs and Rock’n’Roll”  deu entretanto lugar a uma cultura pudica. Passámos da jovem americana pronto ao consumo para uma jovem asiática que esconde a puberdade por detrás da fatiota colegial.

Sim, porque não tenhamos dúvidas, o novo motor do mundo passou a acordar cedo, para os lados do sol nascente. Lá se foram as noitadas. É inegável que se sente um entusiasmo na Ásia que deixou de se sentir por estes lados. Há lá jovens galvanizados pelas perspectivas de um futuro próspero. Sente-se essa tesão, assexuada, na rua.

Agora resta saber qual a capacidades que estes jovens atores do xadrez mundial terão em propor modelos de vida além de bens de consumo.

É que por cá, está visto, a Europa desistiu de fazer história muito em virtude da sua perda de velocidade económica. 

Quem sabe, agora que o traço mais característico do Velho Mundo é a Saudade, talvez o fado fique na moda.

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