sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A resiliência 2


Se 2012 era alegadamente o ano do fim do mundo, 2013 apresenta-se como o ano de todas as incógnitas.

Conseguirão os Estados Unidos criar condições para o reembolso da dívida?; a China que investiu quinze por cento do seu crescimento no imobiliário – os Estados Unidos no pico das subprime eram nove por cento e a Espanha doze – conseguirá manter os mercados necessários ao seu desenvolvimento?; as jovens democracias árabes, cujas juventudes se mantêm arredadas do crescimento económico, conseguirão resistir aos apelos da revolta?

Por mais que colida com a percepção empírica das populações, parece que no mapa atual, a Europa reúne condições para ser um dos ponteiros da estabilidade mundial, nomeadamente em matéria económica. Já se questionaram por que razão é que apesar de toda a instabilidade reinante, a descida dos ratings deixou de encontrar uma expressão nas taxas de juro com que se continua a emprestar dinheiro aos países europeus?

No entanto, é certo que se há oportunidades em aberto que elas devem ser trabalhadas; e se questionarmos qualquer dirigente ou alguém no meio da rua, tornar-se-á difícil obter uma resposta à questão: qual é hoje o projeto europeu?, quais as áreas estratégicas para o futuro da nossa economia?

Que estratégia em termos de independência alimentar?, que política industrial ou energética?... Alguém sabe qual o potencial da economia digital?, no caso português, depois de termos enterrado vivos os moldes, a cutilaria, o têxtil, a cerâmica, as pescas, a agricultura, a indústria naval, que nos resta?

Fala-se do mar – esse eterno companheiro das horas difíceis -, das renováveis, qualificar a fileira automóvel, o turismo e tal mas poder-se-á falar em estratégia?

Contudo, hoje mais do que nunca, seria errado olhar para as respostas à crise numa perspectiva meramente nacional. Parte do problema está em que à margem da requalificação das economias locais, essencial para a dinamização territorial, qualquer estratégia económica deverá daqui em diante ser pensada à escala europeia. E é verdade que o curto prazo anda a matar o longo prazo. Quanto mais é preciso pensar Europa, mais os países pensam nacional. Continuamos a navegar de cabotagem: demasiada reação e muita pouca construção.

E esse défice de resposta estratégica afigura-se me como uma consequência natural da falta de atores à altura: os nossos políticos são fracos; as estruturas sindicais – essenciais ao desenvolvimento industrial alemão por terem sabido comprometer-se com a gestão empresarial – são perfeitamente anacrónicas quando não folclóricas; e o eleitorado tem esse eterno apego ao “centrão” alimentado por um medo endémica à mudança. Como é que se explica que ao termo de quase 40 anos, as maiorias democráticas continuem invariavelmente a creditar PS e PSD de dois terços das previsões de voto?

Perante este cenário meio catastrofista, apetece-me aqui destacar duas chaves para desbloquear este impasse.

Primeiro, a um nível organizacional: para além do chamado choque de competitividade, é importante as estruturas que nos tutelam perceberem que têm de abrir mão de tanta rigidez: no momento em que o individuo emerge na sua individualidade, na sua inventividade; numa altura em que o digital está a fazer explodir uma economia totalmente nova: circular, colaborativa, de trocas... Quantos projetos não têm morrido em virtude da incapacidade dos institutos de apoio ao empreendedorismo não terem sabido ajustar-se a este fluxo criativo?

O Estado é, neste momento, um factor de esterilização de muito do que está a acontecer no terreno. É bom que se entenda quanto antes que estamos numa fase de metamorfose em que o futuro é a contestação do nosso presente.

Depois dum choque organizacional, impõe-se, a montante, um choque cultural ou psicológico.  É comum nas culturas não anglo-saxónicas sermos permanentemente confrontados aos nossos insucessos.  O insucesso escolar, amoroso, económico; todos pesam na hora em que temos de apresentar um currículo.  Numa altura em que é particularmente importante apoiar e enquadrar os esforços das forças vivas, verifica-se que o colectivo adiciona dificuldade à dificuldade.

Houve a esse respeito, um estudo bastante interessante concluído o ano passado por uma equipa de investigadores norte-americanos. Foram criados dois grupos de alunos com a mesma idade.  O primeiro, foi exposto a exercícios de extrema facilidade para além dum role de elogios por parte dos professores; já o segundo,  foi confrontado a exercícios bastante difíceis, ou seja expostos ao insucesso, mas igualmente acompanhados de palavras de incentivo e valorização. Ao termo de dez anos, verificava-se que o primeiro grupo fugia das dificuldades enquanto o segundo as procurava.

É imperativo que saibamos mudar a nossa forma de olhar e enquadrar as dificuldades porque perante os tempos incertos que se avizinham, ninguém estará ao abrigo da necessidade de se reinventar ao longo da vida. E está visto que a cultura da esmola não gera nem vitalidade nem devolve perspectivas a quem já se está a afogar nas dificuldades dum quotidiano precário.

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