domingo, 16 de dezembro de 2012

O romance


Descobri, recentemente, o site de auto-publicação, escrytos.com, por via do qual passa a ser possível publicar ebooks sem custos nem intermediários. Era de prever que também aí, os novos suportes digitais viessem revolucionar a nossa relação não apenas à leitura como a toda a substância e simbologia do livro.

Recordo que ainda há uns anos, era comum ver as casas decoradas com os DVD’’s que já tinham destronado as VHS’s.  Noutro canto, a aparelhagem nunca andava longe da coleção de CD’s mas, ainda assim, o ex-libris da sala sempre foi o livro.

Coloca-se hoje a questão de saber se o papel saberá resistir a esta razia minimalista, que já enterrou as enciclopédias escritas e arrasta agora toda a imprensa diária. 

Mas do outro lado da página, do lado de quem a escreve; qual poderá ser o impacto desta revolução digital?

É de esperar que tal como se descarregam hoje faixas de música sem lhes conhecer os autores, se poderá em breve ler vários tipos de escritos rendidos a novos formatos.

É bom, contudo lembrar que o romance literário veio, também ele no início do século XX, substituir-se à poesia e ao teatro como género maior. Ao longo do século passado, o romance foi ganhando a capacidade de abraçar todos os géneros: inquérito, documentário, conto, ensaio, autobiografia; todos podem hoje ser editados como romances. 

Resta que os códigos e hábitos que definem a escrita deste início de século XXI vieram, em certa medida, alterar as regras do jogo: um escritor é hoje influenciado pelo cinema, pelas séries televisivas, pela internet; da mesma forma como esses géneros são credores da escrita e das imagens. E isso configura uma revolução face a gerações passadas de escritores predominantemente influenciados pelo género literário.

Perante tanta explosão em latência, questiono se deveremos obrigar escritores em potência à leitura de livros em papel com a mesma legitimidade com que se obriga um estudante de belas artes a aprender a desenhar em papel e ao vivo antes de se agarrar ao rato e aos conceitos.

Ridículo, não é?

E agora fica a questão: escrever-se-á da mesma forma como um lápis do que com tinta permanente ou com um teclado?

O ritmo e a musicalidade com que as ideias brotam nos dedos será o mesmo?

Não estará em risco aquela dimensão espacial, temporal e solitária que faz do livro impresso aquele parêntesis demorado?

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