quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A resiliência


Já há uns quantos textos que ando aqui a brincar com a minha noção de poder; chamo-lhe elite, igreja ou cultura... O constato é o mesmo: algo não funciona.

É bom, antes de prosseguir, recordar que vimos de uma tradição mesclada de salazarismo e de taylorismo caracterizada por hierarquias fortes.  Enfrentamos hoje a emergência de uma nova economia digital extensível a modelos de horizontalidade, cooperação fluída e trocas parciais. Portanto há aqui um choque profundo nas categorias com que fomos olhando para a vida e para os seus requisitos.

Face a este desmoronar, é a própria noção de poder que deve aqui ser repensada: se numa visão vertical, poder é controlar, numa perspectiva horizontal poder é estar no centro para regular. Regular em função do todo envolvente sem deixar de ter o Ser Humano, na sua dimensão universalista, no centro da ação.

Para além de revermos a noção de poder, quiçá também se imponha uma redefinição da pobreza e até de trabalho ou auto-realização: porque é sabido que  o futuro que nos aguarda não reserva um trabalho remunerado para cada um de nós.  Em nome da solidariedade das nossas sociedades  deveremos aprender a valorizar participações cívicas não retribuídas; isso face a um modelo que até hoje nos foi ensinando que basta consumir para existir.

O estado a que deixámos chegar a nossa dívida, a situação ambiental e social obriga-nos hoje a repensar a relação que queremos promover entre proveitos económicos e proveitos sociais. Com um crescimento de um a dois por cento para os próximos anos, rapidamente deixaremos de dispor de verbas para suportar as politicas de saúde ou as próprias reformas.

Para além da inexistência de recursos materiais, é a própria cultura dos clientelismos que chega agora ao fim. Todos se foram habituando a preferirem um juiz que defenda os interesses do grupo de pertença a uma qualquer noção de justiça; espera-se do professor que vá passando os miúdos sem real preocupação com a qualidade do saber e ao nível político quer-se é que a fiscalidade seja agravada na porta ao lado.

O próprio sistema político foi-se ajustando a essa demanda, transformando-se numa máquina de sedução.

 Recorde-se aqui aquela velha máxima de Winston Churchill: “ O político pensa nas próximas eleições; o estadista pensa na próxima geração”

É toda esta noção de bem comum que foi gradualmente cedendo lugar a um calculo de interesses tornando-se hoje a imagem de marca das elites. Enquanto isso, estão a nascer na rua núcleos de uma ação repensada à escala do interesse geral.  O político está a ser contornado por organizações civis: e isso quer aqui como no resto da Europa do Sul ou nas primaveras árabes.

A democracia nos termos em que a conhecemos está hoje em crise:  as eleições confundem-se agora com as insurreições na hora em que se procuram definir modelos ideias de representatividade. Se eu já não acredito na força do direito, reivindico o direito à força.

Perante isso, uma solução: a resiliência.

É a força dos territórios que poderá criar esta resposta necessária de resiliência territorial: Como é que os japoneses enfrentaram o drama nuclear de Fukushima?, como é que a sociedade norueguesa aprende a lidar com o facto de Breivik ser um dos seus?, como é que a Europa se reconstrói em fase de declínio?

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