terça-feira, 11 de dezembro de 2012

made in PT



Nasci em Paris; cresci a bem dizer sem família a não ser a nuclear; já me senti em casa em muitos sítios; já fiz minhas muitas línguas;  ao ponto de hoje nunca saber responder àquelas perguntas simples do tipo, és de onde?, que fazes?, que queres?

Tenho essa veia emigra de cigano vagabundo.

Mas a verdade é que há uns anos, escolhi Lisboa como casa. Não queria perpetuar esse padrão; queria ver crescer os meus sobrinhos e partilhar a velhice dos meus pais.

Queria ter uma casa com raízes e árvores à volta.

E, sem certezas, continuo apegado a essa vontade; masoquistamente até.

Se me perguntarem por que razão é que é tão difícil fazer com que as árvores cresçam neste jardim, responder-vos-ei: não sei.

Mas partilharei, assim do nada, a seguinte reflexão...

Em tempos fui correspondente de imprensa. Cobri feiras têxteis, de turismo, comi petit-fours... E sempre me questionei: então mas se no século passado, o tweed inglês fora sucessivamente ultrapassado pela elegância italiana e agora pela criatividade agressiva espanhola, que é que impede aqui a pátria lusa de também ela impor as suas damas nessas imensas feiras?

Tenho de ter aqui a honestidade de dizer o que acho:  a verdade é que os empresários que nos representam, além-fronteiras, nesses certames nem sempre são os mais bem escolhidos; as estruturas como a ANJE ou a AICEP revelam-se tantas vezes autistas e incapazes de verem o país além dos seus próprios circulos de influência.

Peça a um gestor de topo nacional que vos explique porque é que o metro quadrado de tecido italiano custa cinco vezes mais do que o mesmo metro quadrado de tecido português; quando todos lhe dirão que a qualidade nacional é óptima. Já chega de achar que a culpa é dos outros. Neste caso, se culpa há, é de quem não sabe valorizar a singularidade nacional e não a sabe vender.

Por exemplo,  os desfiles de moda da ANJE em Paris: do Filipe Oliveira Baptista, do Luís Buchinho, da Fátima Lopes só para citar alguns. Alguém aqui sabe quais os custos e retornos que representam?

Faz sentido enviar uma comitiva nacional só para devolver a ideia errada cá para casa, de que a moda nacional se exporta. Será que o Felipe Oliveira Baptista tem pelo menos o cuidado de confeccionar as suas peças com matéria-prima nacional?

A resposta é não.

E se quebro aqui um certo dever intimo de reserva, é porque estou farto de ver gente a ter de arrancar-se a este país porque os nossos dirigentes seguem estratégias erradas; porque as pessoas certas estão nos sítios – e países – errados; porque as estruturas de apoio à internacionalização nunca passaram de autênticos mausoléus que raras vezes sabem apoiar a criatividade emergente neste país.

Portugal é uma mina de ideias e bom gosto; não seremos os únicos, com certeza. Mas parece-me por demais evidente que temos de sanear e redinamizar os mecanismos de apoio à criação e redefinir um marketing que traduza a real cadeia de valor acrescentado que caracteriza o made in Portugal e o made by portuguese

3 comentários:

  1. Comigo, embora eu tenha a vontade de escolher, dou-me conta que são os lugares que me escolhem...

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  2. Parabéns pelo prémio que te coube no sorteio, da Árvore de Natal da Blogosfera!! :)

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    1. Eu é que agradeço todo o esforço envolvido nesta iniciativa que deixa um excelente exemplo de mobilização e vontade de partilha. Muito obrigado.

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