segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Os estudantes


Tenho por hábito, quando o tempo o permite, de ir ali cruzar uma perna na esplanada do Oliveira, de caderno e lápis na mão. É uma forma de ganhar alguma perspectiva e de cheirar o dia.

É comum este parêntesis ser mobilado pela presença dos alunos do ISCEM, um Instituto privado situado ali mesmo em frente.  É giro ouví-los e vê-los. Fazem-me com frequência sorrir e sentir mais velho.

Acho piada à mise-en-scène daquelas jovens na moda, de braço irrepreensivelmente curvado a noventa graus; dos apontamentos “freakolé” que as distinguem das betas da minha altura; acho graça ainda aos rapazes, notoriamente menos à vontade nesta coisa do parecer adulto.

Hoje, o grupo que me calhou ao lado, era composto por três jovens; claro que tinham de estar a fumar e claro que tinham de estar a criticar. Este é um dos atributos que normalmente vai de par com o escafandro social próprio dessa idade. A crítica do outro deve das formas mais fáceis de nos escondermos de nós próprios.

E portanto, da nuvem tabágica que perfumou este meu parêntesis matinal, surgiu um “eu há dias em que até comigo me chateio” que me apressei a escrever no meu caderno para aqui reportá-lo.

É revelador, não é?

O acharmos que o chatear-se consigo próprio é o suprassumo da indisposição. Claro que antes do eu, hão de desfilar colegas, amigos, professores ou pais: todos e só em último caso, eu.

Mas a verdade é que não me autorizo a ser excessivamente crítico face a esses jovens: Tenho 38 anos; muitos ali têm metade: será que em substância somos assim tão diferentes?

Quando eu tinha a idade deles não era como eles, no sentido em que acho que nunca pertenci a nenhuma tribo urbana; penso-me como um eterno solitário, sociável mas diferente; por definição, diferente.

Talvez extraídos daquela foto de conjunto, aqueles jovens individualmente sejam também eles diferentes.  Mas o mimetismo com que se entregam e moldam aos códigos vigentes, só sublinha para mim o quão artificial são os nossos mecanismos de afirmação social.

Quanto tempo irão eles um dia demorar a despir estas pesadas vestimentas sociais para voltarem a tentar ser eles próprios?

2 comentários:

  1. Quanto tempo vão eles demorar a despir as vestimentas sociais, perguntas tu. Quanto tempo levamos nós a tentar faze-lo ... e temos o dobro da sua idade.

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  2. Pois, mas o que eu aqui questiono é a necessidade de vestirmos algo para um dia o querer despir. Não haverá forma de nos construirmos sem ser em comparação à norma?

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