domingo, 9 de dezembro de 2012

Tratado da felicidade


Alturas há, em que tanta dúvida e complicação me pesam.

Quem sou eu, para onde vamos, que mudar?

Porque é que as coisas não nascem fluidamente umas das outras?

Tudo motivos mais que suficientes para aqui convidar o filósofo da felicidade, Robert Misrahi.

A felicidade: não é esse afinal o leitmotiv que nos move?

Tanto sacrifício ao longo de uma vida sem que muitas vezes nos demoremos para questionar afinal o que é que cada um de nós procura realmente por detrás dessa felicidade.

Pois Misrahi, herdeiro do conceito de liberdade do Sartres e do de desejo do Spinoza, desconstrói a questão da felicidade nos seus fundamentos. Para o autor do Tratado da Felicidade, um sujeito é mais do que tudo uma consciência intuitiva de si próprio delimitada pela consciência dos seus desejos. O desejo é aqui o que faz com que o homem se mova; habite a existência.  E basicamente para que este sujeito, ou seja cada um de nós, consiga atingir a plenitude a que chamaremos aqui a felicidade, há que questionar três pontos das nossas vidas.

Primeiro, convém dessacralizar qualquer determinismo. Não há barreiras físicas ou culturais que nos imponham definições absolutas. Somos sempre os co-autores dos significados que nos rodeiam.  Serei sempre eu a definir o valor efectivo do que possa significar ter um bom carro ou ser dono de uma casa.

Segundo ponto a repensar, o outro: é fácil fazer do outro uma ferramenta para os meus próprios interesses esquecendo que por detrás desse interlocutor, há um “eu” com as mesmas necessidades de afirmação; daí, a importância de tratar o outro como gostamos de ser tratados.

Por último,  só há uma vida: aqui na terra. Como tal, não faz sentido desperdiçá-la. Portanto se a vida se afigura como uma sucessão de sofrimentos e desconfortos é porque há algo que deve ser alterado.

Esse algo, começa com uma atitude que faça a súmula dos três pontos anteriores: não temer a morte nem o amanhã; descontruir qualquer determinismo interiorizado; evitar cuidadosamente a cobiça ou a comparação ao outro e afinal canalizar tempo e energias na concretização de vontades pessoais.

A felicidade nasce dessa convergência através da fruição ou criação de pequenas e grandes construções como o ouvir ou compor uma música.
 
Sistematizando, a felicidade traduz-se na possibilidade de viver experiências renováveis, escolhidas e em fase com necessidades individuais.  Cabe-nos, antes disso, sermos capazes de cultivar uma alegria interior que possa ser criativa como contemplativa.

Já me soa daqui o “Fácil falar e quem paga as contas?”

Mas desta vez, não vou responder.

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