Alturas há, em que
tanta dúvida e complicação me pesam.
Quem sou eu, para
onde vamos, que mudar?
Porque é que as
coisas não nascem fluidamente umas das outras?
Tudo motivos mais que
suficientes para aqui convidar o filósofo da felicidade, Robert Misrahi.
A felicidade: não é
esse afinal o leitmotiv que nos move?
Tanto sacrifício ao
longo de uma vida sem que muitas vezes nos demoremos para questionar afinal o
que é que cada um de nós procura realmente por detrás dessa felicidade.
Pois Misrahi,
herdeiro do conceito de liberdade do Sartres e do de desejo do Spinoza,
desconstrói a questão da felicidade nos seus fundamentos. Para o autor do Tratado da Felicidade, um sujeito é mais
do que tudo uma consciência intuitiva de si próprio delimitada pela consciência dos seus desejos. O desejo é aqui o
que faz com que o homem se mova; habite a existência. E basicamente para que este sujeito, ou seja
cada um de nós, consiga atingir a plenitude a que chamaremos aqui a felicidade,
há que questionar três pontos das nossas vidas.
Primeiro, convém
dessacralizar qualquer determinismo. Não há barreiras físicas ou culturais que
nos imponham definições absolutas. Somos sempre os co-autores dos significados
que nos rodeiam. Serei sempre eu a
definir o valor efectivo do que possa significar ter um bom carro ou ser dono de uma casa.
Segundo ponto a
repensar, o outro: é fácil fazer do outro uma ferramenta para os meus próprios
interesses esquecendo que por detrás desse interlocutor, há um “eu” com as
mesmas necessidades de afirmação; daí, a importância de tratar o outro
como gostamos de ser tratados.
Por último, só há uma vida: aqui na terra. Como tal, não
faz sentido desperdiçá-la. Portanto se a vida se afigura como uma sucessão de
sofrimentos e desconfortos é porque há algo que deve ser alterado.
Esse algo, começa com
uma atitude que faça a súmula dos três pontos anteriores: não temer a morte nem
o amanhã; descontruir qualquer determinismo interiorizado; evitar
cuidadosamente a cobiça ou a comparação ao outro e afinal canalizar tempo e
energias na concretização de vontades pessoais.
A felicidade nasce
dessa convergência através da fruição ou criação de pequenas e grandes
construções como o ouvir ou compor uma música.
Sistematizando, a
felicidade traduz-se na possibilidade de viver experiências renováveis,
escolhidas e em fase com necessidades individuais. Cabe-nos, antes disso, sermos capazes de
cultivar uma alegria interior que possa ser criativa como contemplativa.
Já me soa daqui o
“Fácil falar e quem paga as contas?”
Mas desta vez, não
vou responder.
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