terça-feira, 18 de dezembro de 2012

o jogo 2


Por acaso estive recentemente em dois convívios onde estavam presentes crianças; num dos casos, era um jantar caseiro em que para nos podermos reunir entre adultos, os dois rebentos foram conectactos à consola de jogos, ligada ao mega plasma: de facto, bastou ligar a bomba e pumba: calaram-se de língua de fora e começaram a pôr os avatares a voar por todos os lados.  
Já desta segunda vez, o cenário repetiu-se, só que à mesa do restaurante: os dois irmãos passaram o almoço todo escondidos atrás da consola portátil a explodir inimigos na maior das calmas. Nem os ouvi falar uma única vez.

Também eu, em tempos, tive a minha fase playstation / dragonball: durou um tempo antes que me levantasse, espreguiçasse e seguisse o meu caminho. Quiçá estes jogos não passem de laboratórios em que se afinam capacidades replicáveis noutros contextos.

Contudo, olhemos para o exemplo japonês, sem dúvida uma das sociedades mais tecnologizadas e que, recorde-se, foi das mais violentas do século passado.  Pois note-se que neste fim-de-semana, houve eleições em que mais de quarenta por cento dos mais jovens se abstiveram, permitindo com isso a eleição de um governo conservador de direita (pró-nuclear).

A capacidade daqueles jovens se projetarem na vida política do seu país é nula. Haverá algum tipo de correlação entre o desinteresse pelo ativismo social e o incremento de bolhas individuais suportadas pela tecnologia?

Ter-nos-emos tornado na “sociedade do espetáculo” do Guy Debord?

Não sei.

Sei que o jogo se tornou essencial à vida de qualquer ser humano e que quem nos vende espetáculos e imagens sabe-o muito bem.

Resta saber se este labirinto de espelhos em que os nossos egos refletidos se misturam com tantas imagens não nos impede de distinguir originais de representações.

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