Por motivos que não me interessa aqui
detalhar, caí há pouco na minha própria contradição.
Estava há dias, ao partilhar a minha reflexão
sobre “o homem que fazia Adeus” a criticar a formatação à qual estamos sujeitos
para a cultura da posse, da propriedade ou do património. Noto hoje o quão natural é em mim a necessidade me apropriar aquilo que me agrada.
Vá lá que já aprendi a não trazer conchinhas e
pedrinhas da praia: aquelas mesmas que ficam caídas no fundo do copo dos lápis
ou nos compartimentos do carro. Também já aprendi a não tirar cem fotos mal me
deslumbre com algo de especial; mas
quando esse algo de especial assume os contornos de uma pessoa, sinto logo
nascer em mim a vontade de a ter. De uma forma ou de outra. A coisa tanto pode evoluir
para o desejo carnal como pode fluir para outros consumos como o cultural.
É aliás engraçado como o consumo carnal é socialmente tão distante do consumo
intelectual.
Supondo que, eu como homem casado, chego a
casa e digo ao meu par “xuxu, hoje conheci uma pessoa super interessante.
Ficámos ali a falar durante horas”. Até posso levar como resposta, “uau, que
bem. Fico mesmo contente por ti”. Já no
segundo cenário, se o mesmo marido curioso, chegar a casa com um “uau, hoje conheci
uma brasa estivemos ali horas a pinar”, desconfio que a resposta do xuxu não
seja propriamente a mesma.
Mas porquê essa distinção afinal?
Não somos diariamente impelidos, nas mais
diversas frentes, a ser curiosos; a abrir portas; a não nos acomodarmos às
nossas certezas; então, se isso se aplica ao contexto das relações sociais,
porque é que há de ser diferente na hora em que falamos daquele epicentro que é
a relação amorosa. Porque é que aí, nos haveremos de barricar por detrás de um
discurso moral tão inquestionável?
Porque é que aliás a própria lógica de
infidelidade só se aplica ao sexo. O que é que aquela exclusividade é suposto
representar?
- Bom, calma lá e para aí o baile!
Já te conheço Henrique Shiuu. Já sei onde queres chegar com tanta
porque é que isto e porque é que aquilo:
seu porco!
Vai mas é trabalhar pá !!!
- Tens razão alter ego, a coisa estava a correr tão bem. Já estava aqui tão lançado e tu, voz do bom senso...
-
Shiuu!!!
- A verdade é que já pus estas teorias à prova da prática e senti que me estava apenas a fazer violência em nome dos princípios teóricos. É certo que por ora sou só um homem e que a moral também está em mim e não apenas fora
-
Ah, assim sim ... Vês ?!
Bom, parece que vou ter de ir vergar a mola
mas prometo voltar com mais teorias mal esta voz do dever me largar a sola.
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