Comecei, na semana
passada, a frequentar um Curso de Escrita Criativa. Acreditem que o interesse da experiência
não passa mais pelas intervenções dos palestrantes do que pela
observação dos demais participantes.
Ali estão
seguramente mais de quarenta pessoas, maioritariamente habitadas pela vontade
de publicar algo. Aliás, todo o curso
está muito focado no formato romance, quando este não é para mim dos suportes
mais interessantes a explorar. Até porque noto que a larga maioria dos presentes
manifesta hábitos regulares de leitura que contrastam com os meus petiscos
literários.
Mas é de facto
interessante e confortável sentir-me, de repente, rodeado por um conjunto de
pessoas de certa maneira atravessadas pelos mesmos desejos e inibições do que
eu. Não interessa se uns aspiram a ser dramaturgos e outros cronistas. Ali,
está um conjunto de pessoas dispostas a pôr a sua sinceridade ao serviço de
algo maior.
No entanto...
Sim, no entanto,
aquela foto de grupo tem algo de parecido com os castings ridicularizados pela TV Lixo, do género Ídolos. Parece que
a nossa sociedade se tornou dependente
do reconhecimento público.
É claro que por
detrás de um desejo de exposição, encontram-se aspectos premiáveis que denotam
mais do que tudo uma capacidade de manter o sonho vivo e de ultrapassar
barreiras. No entanto, temo que esse
percurso pessoal embata numa realidade algo mais crua: que é o facto de não
haver mercado para tanta criação.
Quantos artistas
vivem da sua arte, ainda que sem grandes mordomias?
Quantos livros ou
CD’s compram em média os portugueses?; quantos livros ou discos compram em
média estes candidatos ?
No que me diz
respeito, muito poucos. Com a agravante de que me habituei a achar que a
cultura pode ser um bem gratuito. De vez em quando lá pago cinco ou dez euros
por um ingresso mas, de resto, entre bibliotecas municipais e downloads, pouco mais sai do meu
orçamento para irrigar uma indústria que se quer vital para todos nós.
É certo que a
maioria dos meus camaradas de Curso estarão ali mais interessados no seu
processo pessoal do que num futuro profissional ou financeiro. Até porque ambas
as realidades são compatíveis. Portanto
sim, é assumido que o objectivo primeiro será sempre pessoal muito embora eu
considere essencial todos aqui nos colocarmos as seguintes perguntas:
Será que eu sou
cliente da minha criação?; será que eu pagaria para comprar este livro se não
fosse meu?; será que eu iria ver esta peça de teatro por entre as dezenas que
por aí há caso não estivesse nela envolvido?
Eu sei que, no meu
caso, a resposta é não. Não, não tenho sido um leitor regular; não, não me tenho apenas deixado guiar por
critérios de pertinência. Hoje, por exemplo, devo ir à Cinemateca sem sequer
saber o que por lá há.
Não nos enganemos,
de certo que isso retira alguma legitimidade aos meus propósitos. Quiçá deva
olhar com simplicidade para aquilo que tenho feito e consumido para nortear
algumas decisões presentes e futuras.
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