Não não, não pensem que isto vai
cheirar a perfume: Este meu devaneio lírico terá seguramente mais o cheiro a
suor...
Pois é, o amor...
Ainda não se inventou nada de melhor: pelo
menos para inspirar artistas de todas as frentes... Acabei aliás de ler ainda
ontem um romance do pai da expressão francesa bobo, contracção de bourgeois bohême. Frédéric Beigbeder, é um
autor cáustico e, aqui*, partilha connosco a frustração de um Dom Juan que não
consegue ir além dos três anos de relacionamento amoroso: um primeiro de paixão; um
segundo mais ternurento e um terceiro já a olhar para o lado.
Segundo as revistas femininas citadas pelo
nosso autor, parece que é tudo uma questão química. Portanto, o amor não seria
nada mais do que uma valente dose de “drunfalhada” natural que eleva o nosso chamado bom
senso para cima das nuvens.
O que é certo é que entre os meus amores
salgados e algumas representações cinematográficas (...) do bicho, vai por
vezes uma distância considerável. Aliás, confesso que sexo e amor estão, a meu
ver, altamente sobrerrepresentados na película face à importância que calculo
terem deste lado da câmara.
Mas já agora, de todos os mitos fundadores que
os nosso artistas teimam em ventilar, diria que o mais tóxico é o do amor
incondicional. Sim, ao ver da grande arte
romântica deste século (vá, e dos passados tb) o amor seria uma espécie de
jackpot irreversível: bingo, caíste-lhe no goto... Agora é só curtir ... Até já
te podes dar ao luxo de uma “bufita” debaixo dos lençóis; Agora que és MEU
marido – ainda por cima firmámos o sacramento para a eternidade frente ao
pessoal todo – pois agora, já podemos fazer do namoro uma coisa pós dias de
festa!
Eu, na verdade, acho que este mito resulta da
importação da noção de amor materno para a arena do amor romântico. É comum aprendermos
a amar através das atenções que rodearam o nosso berço: e é precisamente neste berço que nasce toda a
prosa do amor incondicional que conduz muitos de nós até ao altar com os olhos
a brilhar.
Pois eu, e sem especiais rancores, não
acredito nessa teoria. Acho que o amor adulto é sempre uma coisa condicional:
que depende do esforço; da capacidade de reinventar aquele corpo; aquela vida a
dois; de dar gratuitamente; de aceitar as diferenças daquela pessoa; de não a
querer domar ou moldar. O amor, para mim, vive da consciência da sua fragilidade
e essência vaporosa... Não é algo que possamos explicar e muito menos
fechar em conceitos absolutos.
Enfim, mas isto sou eu que gosto de viver sempre
com uma janela aberta... Tem graça, eu aqui a criticar definições do amor e
acabo precisamente por parir uma.
*”L’amour dure trois ans”, de Frédéric Beigbeder.
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