As palavras são a minha hemoglobina. Ocupam
tanto espaço em mim que por vezes quase me sufocam.
O estranho dentro de tudo isso é que se me
perguntarem para quê tanta palavra?; para que te serviram essas palavras todas?, poderei não saber responder.
É claro que num registo formal ou social, a
palavra permite articular o discurso e a acção; mas quando entramos num registo
mais intimo, entramos também no registo
da impossibilidade do dizível.
E digo-vos isso num contexto muito particular.
Sinto-me habitado por uma extrema dificuldade em ultrapassar uma apatia que me
impede de dar substância aos meus compromissos profissionais. Sei que perante isso, já fiz planos e mapas
na agenda; já enumerei um número infinito de vezes as intermináveis vantagens
de acordar, mas a verdade é que na hora H, sinto-me como uma anoréctica a quem
dizem que deve comer.
Já experimentaram dar apoio a uma pessoa
depressiva?
É tão frustrante: ela pode saber tudo; sabe
que devia isto e devia aquilo mas nada lhe trava aquele jorro de tristeza; Não
há amor ou amizade que consiga ali estancar a fonte. E é precisamente nesse
limite constitutivo do ser que eu questiono o poder da palavra.
Esta minha duvida equivale, de certa maneira,
a repor em causa a validade de psicoterapias e afins; e sim, confesso que pelos
casos que observo, apesar dos anos que passam, as melhorias tendem a ser discretas.
Já o disse aqui e repito, não sei se a palavra
é amiga da verdade. Nem sei se é papel dela iluminar estas nossas zonas de
sombra.
- Então e
Henrique, neste contexto, conheces alguma alternativa à palavra?
- Sim, por acaso conheço: a acção: Sei que enquanto estou envolvido a fazer algo,
o pensamento suspende-se. Chego aliás à triste conclusão de que pensamento e
acção raras vezes resultam um do outro.
É aliás esta espécie de equilibrismo interior
que tento cultivar com este exercício da escrita. Um híbrido entre reflexão e
construção.
Mas pronto, este texto assina para mim um
epílogo: aguardo com expectativa o dia de amanhã.
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