Ah, nada como uma bela catarse cinematográfica
para se voltar mais levezinho para casa.
Regresso há instantes do Festival de Terror,
MOTEL X.
Bem, na verdade, fui lá ver “O Território”, um
filme de Raoul Ruiz, que contou com a presença do produtor Paulo Branco na
sala. De terrorífico, nada ali havia; e
ainda bem.
O terror para mim é uma forma divertida de se encenar a violência; de lhe adulterar os
códigos. E notem que um dos países mais exímios em produzir um cinema que
chamaria de hard gore, será dentro do
que eu conheço, o Japão. Uma sociedade que eu vejo como bastante pacífica, o
que não deixa de explicar muito sobre a função catártica que o cinema pode ter.
Agora voltando ao registo da violência
psicológica que atravessou este “O Território” - em que basicamente um grupo de
turistas perdidos na Serra de Sintra, optam por se alimentar do cadáver de um
dos elementos que viera entretanto a morrer – confesso rever-me na tipificação
do que é para mim a violência.
Desde logo, mais do que uma sucessão de acções
aceleradas, para mim a violência é um estado mental. É um estado anormal; um
estado que associo a uma certa demência. A título de exemplo, os filmes que
melhor souberam retratar esse catapultar para o outro lado do ser humano foram
o Funny Games, do Michael Haneke; o Apocalypse Now do Coppola ou a Laranja Mecânica de Stanley Kubrick. Em
qualquer um deles, a violência é-nos apresentada naquilo que ela
verdadeiramente representa para mim: a manifestação de uma perda de
controle.
Eu vejo a violência
como algo de profundamente humano e aleatório. Desde o poder ser atropelado ao
ser assolado pela doença. Não há na minha visão da coisa, bons de um lado que
perseguem maus do outro. Há, vitimas que tiveram azar. Ponto. Estavam onde não
deviam estar; nasceram com enfermidades latentes. Se formos a ver, a combinação
de factores de risco é tal ao longo das nossas vidas que expormo-nos a uns e
não a outros não deixa de ser igualmente uma espécie de roleta russa.
Agora, admito que dentro desse quadro de
possibilidades existam factores que podemos domar. Mas, para mim, é ilusório
acreditar que o bem-querer anula todo e qualquer risco: daí que fora dessa
baliza nos expúnhamos todos aos azares da vida, ou seja, à violência da mesma.
Isto equivale a dizer que a vida pode ser
injusta.
E será que isso faz de mim um ser amargurado?
Antes pelo contrário: no dia em que passei a
aceitar uma quota-parte de aleatório naquilo que me pode acontecer passei a
achar que tudo fazia mais sentido. Sim senhor, já sabemos que esta vida pode
ser injusta; também sabemos que a felicidade pode ser efémera; a beleza
fugaz...
E daí?
Vivamos mais intensamente o presente.
Aliás, recordo-me de ter ficado espantado após
o onze de Setembro com a capacidade de resiliência das pessoas. De repente era normal, ter de se descalçar
para atravessar um detector de metais à entrada dos prédios; de repente, sim,
sabia-se que se desse na mona de um qualquer maluco desfazer-se contra uma
torre, que poderíamos perder a vida a qualquer momento. E daí?
Pois é, life
goes on, não é?
Portanto, lá está, nada como encenar um pouco dessa substância aleatória das coisas nem que só seja para pormos em perspectiva
aquilo que efectivamente nos merece esforço e dedicação.
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