quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A cobra


Devia ter paí uns dez anos; recordo-me de ter ido à Piscina Municipal num daqueles dias de calor abrasador; recordo-me de não ter querido dar parte fraca e de ter acompanhado o meu primo mais novo até à prancha dos cinco metros; recordo-me do medo que se apoderou de mim; recordo-me de não ter conseguido saltar; recordo-me de ter querido descer pelas escadas enfrentando as críticas de todos aqueles que as queriam subir...

25 anos mais tarde....

Recordo-me de estar num junco, um daqueles barcos turísticos em plena Baía de Halong, no Vietname, e de ao fim da tarde todos se terem querido refrescar na água; num misto de competição marialva e de autêntica liberdade, uns mais afoitos lembraram-se de querer saltar do topo da embarcação para dentro de água; recordo-me de ter feito parte desse primeiros que optaram por fazer antes de pensar... Recordo-me da sensação de libertação uma vez dentro de água

Há uma hora atrás

Estava dividido entre fazer ou não a minha ginástica semanal.  Estive ali a deixar engrossar aquele nó feito cobra no estômago. Conheço-a bem essa cobra. Não sei se é uma amiga se uma inimiga; mas sei que tenho vivido num combate diário com ela; é contra ela que tenho aprendido a superar-me; é com ela que tenho crescido.

Chega a parte das questões: 

Será inevitável esta guerra interior entre preguiça ou vontade de permanência e esforço ou necessidade de mudança?

Terá que ser sofrível essa transição do querer à acção?

Estarei condenado a agir sem pensar?

... O que é certo é que montei arraiais lá no topo da prancha de cinco metros; parece que continuo a viver na angústia de uma mudança tornada urgente. Só que desta vez,  o salto implica um trepar e não um deixar cair.

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