segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O amor


Não não, não pensem que isto vai cheirar a perfume: Este meu devaneio lírico terá seguramente mais o cheiro a suor...

Pois é, o amor...

Ainda não se inventou nada de melhor: pelo menos para inspirar artistas de todas as frentes... Acabei aliás de ler ainda ontem um romance do pai da expressão francesa bobo, contracção de bourgeois bohême. Frédéric Beigbeder, é um autor cáustico e, aqui*, partilha connosco a frustração de um Dom Juan que não consegue ir além dos três anos de relacionamento amoroso: um primeiro de paixão; um segundo mais ternurento e um terceiro já a olhar para o lado.

Segundo as revistas femininas citadas pelo nosso autor, parece que é tudo uma questão química. Portanto, o amor não seria nada mais do que uma valente dose de “drunfalhada” natural que eleva o nosso chamado bom senso para cima das nuvens.

O que é certo é que entre os meus amores salgados e algumas representações cinematográficas (...) do bicho, vai por vezes uma distância considerável. Aliás, confesso que sexo e amor estão, a meu ver, altamente sobrerrepresentados na película face à importância que calculo terem deste lado da câmara.

Mas já agora, de todos os mitos fundadores que os nosso artistas teimam em ventilar, diria que o mais tóxico é o do amor incondicional.  Sim, ao ver da grande arte romântica deste século (vá, e dos passados tb) o amor seria uma espécie de jackpot irreversível: bingo, caíste-lhe no goto... Agora é só curtir ... Até já te podes dar ao luxo de uma “bufita” debaixo dos lençóis; Agora que és MEU marido – ainda por cima firmámos o sacramento para a eternidade frente ao pessoal todo – pois agora, já podemos fazer do namoro uma coisa pós dias de festa!

Eu, na verdade, acho que este mito resulta da importação da noção de amor materno para a arena do amor romântico. É comum aprendermos a amar através das atenções que rodearam o nosso berço:  e é precisamente neste berço que nasce toda a prosa do amor incondicional que conduz muitos de nós até ao altar com os olhos a brilhar.

Pois eu, e sem especiais rancores, não acredito nessa teoria. Acho que o amor adulto é sempre uma coisa condicional: que depende do esforço; da capacidade de reinventar aquele corpo; aquela vida a dois; de dar gratuitamente; de aceitar as diferenças daquela pessoa; de não a querer domar ou moldar. O amor, para mim, vive da consciência da sua fragilidade e essência vaporosa... Não é algo que possamos explicar e muito menos fechar em conceitos absolutos.

Enfim, mas isto sou eu que gosto de viver sempre com uma janela aberta... Tem graça, eu aqui a criticar definições do amor e acabo precisamente por parir uma.

*”L’amour dure trois ans”, de Frédéric Beigbeder.

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