quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O especialista


Durante as últimas décadas, valorizou-se muito a cultura da especialidade. A ideia era a de formar técnicos altamente especializados; aliás quanto mais únicos fossemos no domínio de um assunto maiores as nossas hipóteses de sucesso. No mesmo registo, as empresas foram externalizando tudo o que não tivesse que ver  com o seu core business: delega-se a refeição colectiva a uma empresa da especialidade; contrata-se uma empresa de limpezas, em vez de recrutar uma pessoa da casa afecta a esse e outros serviços.  E assim se chega, ao termo de algumas décadas, ao fim da empresa patriarcal, parceira de um certo pacto social.

Por detrás dessas opções, claro está, estiveram especialistas em gestão de recursos que entenderam que estas escolhas seriam as melhores para aumentar os rendimentos da empresa, ao reduzirem custos colaterais.

Basta ainda agora ligar a televisão, especialmente nos canais informativos, para sermos a toda a hora inundados de magnas teorias debitadas pelos novos profetas: os comentadores.

E isso, para não falar das Agências de rating ou  da “crème de la crème”: os políticos profissionais.

Pois tenho aqui a dizer: Basta.

Basta, desde logo, porque as visões compartimentadas desses especialistas não se têm revelado capazes de antecipar soluções globais à altura.

Basta, porque o mundo e o ser humano tendem cada vez mais a ser um conjunto fluído; e em boa hora, porque para que assim não seja, vêm especialistas definir estratégias de marketing que orientem as escolhas do rebanho.

Basta, porque não creio que este modelo da especialização nos torne a todos nem mais felizes, nem mais perspicazes nem mais solidários.

Basta, porque a cultura da especialidade afunila o pensamento e não se traduz, contrariamente ao expectável, numa pluralidade de pontos de vista.  Assumamos o exemplo da crise. Há três anos, todos concordávamos –a reboque de teorias importadas no pós Goldman Sacks – que era papel do Estado apoiar a banca desse por onde desse.  Hoje todos concordam que a nacionalização do BPN foi um erro;  Há um ano,  todos concordávamos que a austeridade era o merecido castigo por anos de sol e vida boa; Agora, já todos concordam que a medicaco﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽ta-me ainda mais, a capacidade que estes especialistas que acumulm no curr otidiano, eram seguramente pessoas menos anção está a matar o doente... Ou seja,  grandes verdades que se contradizem umas às outras no espaço de meses são hoje o apanágio da nossa realidade. 

Por isso eu digo, não se trata de repor em causa a necessidade de pessoas bem preparadas nas respectivas áreas de actuação. Trata-se de repensar as ferramentas que os ditos especialistas estão a usar; e deixar de querer fazer futurologia.  A vida e o mundo estão mais do que nunca em mudança constante. Querer controlar esses ciclos é em boa parte ilusório.

Portanto, à minha escala de observador diletante, eu advogo a necessidade de se redimensionar a nossa acção a um nível mais legível.  É certo que vivemos numa realidade global mas na minha perspectiva global também rima com local.

Revejo nos acontecimentos que nos rodeiam uma excelente oportunidade de voltarmos a requalificar redes territoriais feitas de pequenas e médias explorações que conferem toda a singularidade e qualidade de vida a este país. Está na hora de voltar a integrar; de voltar a resgatar modelos de organização que sejam mais flexíveis. Eu imputo à crescente compartimentação das áreas de saber e de intervenção, parte da explicação daquilo que estamos a viver.

Basta de querer proceder a reformas pensadas para os dois por cento das empresas que exportam. Eu fui criado e educado por um casal dono de uma loja de electrodomésticos de centro de cidade; sou hoje um micro empresário. São pessoas como eu, como nós, que devolvem vida aos centros urbanos: que devolvem dinamismo às comunidades; é importante não ficarmos na megalomania do grande capitalismo mundializado. 

Parece-me que o medo de perder este último comboio dos grandes anda a cegar os nossos gurus.


Sem comentários:

Enviar um comentário