sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A violência


Ah, nada como uma bela catarse cinematográfica para se voltar mais levezinho para casa.

Regresso há instantes do Festival de Terror, MOTEL X.

Bem, na verdade, fui lá ver “O Território”, um filme de Raoul Ruiz, que contou com a presença do produtor Paulo Branco na sala. De terrorífico, nada ali havia; e ainda bem.

O terror para mim é uma forma divertida de se encenar a violência; de lhe adulterar os códigos. E notem que um dos países mais exímios em produzir um cinema que chamaria de hard gore, será dentro do que eu conheço, o Japão. Uma sociedade que eu vejo como bastante pacífica, o que não deixa de explicar muito sobre a função catártica que o cinema pode ter.

Agora voltando ao registo da violência psicológica que atravessou este “O Território” - em que basicamente um grupo de turistas perdidos na Serra de Sintra, optam por se alimentar do cadáver de um dos elementos que viera entretanto a morrer – confesso rever-me na tipificação do que é para mim a violência.

Desde logo, mais do que uma sucessão de acções aceleradas, para mim a violência é um estado mental. É um estado anormal; um estado que associo a uma certa demência. A título de exemplo, os filmes que melhor souberam retratar esse catapultar para o outro lado do ser humano foram o Funny Games, do Michael Haneke; o Apocalypse Now do Coppola ou a Laranja Mecânica de Stanley Kubrick. Em qualquer um deles, a violência é-nos apresentada naquilo que ela verdadeiramente representa para mim: a manifestação de uma perda de controle.

Eu vejo a violência como algo de profundamente humano e aleatório. Desde o poder ser atropelado ao ser assolado pela doença. Não há na minha visão da coisa, bons de um lado que perseguem maus do outro. Há, vitimas que tiveram azar. Ponto. Estavam onde não deviam estar; nasceram com enfermidades latentes. Se formos a ver, a combinação de factores de risco é tal ao longo das nossas vidas que expormo-nos a uns e não a outros não deixa de ser igualmente uma espécie de roleta russa.

Agora, admito que dentro desse quadro de possibilidades existam factores que podemos domar. Mas, para mim, é ilusório acreditar que o bem-querer anula todo e qualquer risco: daí que fora dessa baliza nos expúnhamos todos aos azares da vida, ou seja, à violência da mesma.

Isto equivale a dizer que a vida pode ser injusta.

E será que isso faz de mim um ser amargurado?

Antes pelo contrário: no dia em que passei a aceitar uma quota-parte de aleatório naquilo que me pode acontecer passei a achar que tudo fazia mais sentido. Sim senhor, já sabemos que esta vida pode ser injusta; também sabemos que a felicidade pode ser efémera; a beleza fugaz...

E daí?

Vivamos mais intensamente o presente.

Aliás, recordo-me de ter ficado espantado após o onze de Setembro com a capacidade de resiliência das pessoas.  De repente era normal, ter de se descalçar para atravessar um detector de metais à entrada dos prédios; de repente, sim, sabia-se que se desse na mona de um qualquer maluco desfazer-se contra uma torre, que poderíamos perder a vida a qualquer momento. E daí?

Pois é, life goes on, não é?

Portanto, lá está, nada como encenar um pouco dessa substância aleatória das coisas nem que só seja para pormos em perspectiva aquilo que efectivamente nos merece esforço e dedicação.



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