sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A posse


Por motivos que não me interessa aqui detalhar, caí há pouco na minha própria contradição.

Estava há dias, ao partilhar a minha reflexão sobre “o homem que fazia Adeus” a criticar a formatação à qual estamos sujeitos para a cultura da posse, da propriedade ou do património. Noto hoje o quão natural é em mim a necessidade me apropriar aquilo que me agrada.

Vá lá que já aprendi a não trazer conchinhas e pedrinhas da praia: aquelas mesmas que ficam caídas no fundo do copo dos lápis ou nos compartimentos do carro. Também já aprendi a não tirar cem fotos mal me deslumbre com algo de especial;  mas quando esse algo de especial assume os contornos de uma pessoa, sinto logo nascer em mim a vontade de a ter. De uma forma ou de outra. A coisa tanto pode evoluir para o desejo carnal como pode fluir para outros consumos como o cultural.

É aliás engraçado como o consumo carnal  é socialmente tão distante do consumo intelectual.

Supondo que, eu como homem casado, chego a casa e digo ao meu par “xuxu, hoje conheci uma pessoa super interessante. Ficámos ali a falar durante horas”. Até posso levar como resposta, “uau, que bem. Fico mesmo contente por ti”.  Já no segundo cenário, se o mesmo marido curioso, chegar a casa com um “uau, hoje conheci uma brasa estivemos ali horas a pinar”, desconfio que a resposta do xuxu não seja propriamente a mesma.

Mas porquê essa distinção afinal?

Não somos diariamente impelidos, nas mais diversas frentes, a ser curiosos; a abrir portas; a não nos acomodarmos às nossas certezas; então, se isso se aplica ao contexto das relações sociais, porque é que há de ser diferente na hora em que falamos daquele epicentro que é a relação amorosa. Porque é que aí, nos haveremos de barricar por detrás de um discurso moral tão inquestionável?

Porque é que aliás a própria lógica de infidelidade só se aplica ao sexo. O que é que aquela exclusividade é suposto representar?

-       Bom, calma lá e para aí o baile!

Já te conheço Henrique Shiuu. Já sei onde queres chegar com tanta porque é que isto e porque é que aquilo:  seu porco!

Vai mas é trabalhar pá !!!


  -   Tens razão alter ego, a coisa estava a correr tão bem. Já estava aqui tão lançado e tu, voz do bom senso...

-       Shiuu!!!


  -   A verdade é que já pus estas teorias à prova da prática e senti que me estava apenas a fazer violência em nome dos princípios teóricos. É certo que por ora sou só um homem e que a moral também está em mim e não apenas fora

-       Ah, assim sim ... Vês ?!

Bom, parece que vou ter de ir vergar a mola mas prometo voltar com mais teorias mal esta voz do dever me largar a sola.



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