quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O processo criativo


Comecei, na semana passada, a frequentar um Curso de Escrita Criativa. Acreditem que o interesse da  experiência não passa mais pelas intervenções dos palestrantes do que pela observação dos demais participantes.

Ali estão seguramente mais de quarenta pessoas, maioritariamente habitadas pela vontade de publicar algo.  Aliás, todo o curso está muito focado no formato romance, quando este não é para mim dos suportes mais interessantes a explorar. Até porque noto que a larga maioria dos presentes manifesta hábitos regulares de leitura que contrastam com os meus petiscos literários.

Mas é de facto interessante e confortável sentir-me, de repente, rodeado por um conjunto de pessoas de certa maneira atravessadas pelos mesmos desejos e inibições do que eu. Não interessa se uns aspiram a ser dramaturgos e outros cronistas. Ali, está um conjunto de pessoas dispostas a pôr a sua sinceridade ao serviço de algo maior.

No entanto...

Sim, no entanto, aquela foto de grupo tem algo de parecido com os castings ridicularizados pela TV Lixo, do género Ídolos. Parece que a nossa sociedade se tornou  dependente do reconhecimento público.

É claro que por detrás de um desejo de exposição, encontram-se aspectos premiáveis que denotam mais do que tudo uma capacidade de manter o sonho vivo e de ultrapassar barreiras.  No entanto, temo que esse percurso pessoal embata numa realidade algo mais crua: que é o facto de não haver mercado para tanta criação.

Quantos artistas vivem da sua arte, ainda que sem grandes mordomias?

Quantos livros ou CD’s compram em média os portugueses?; quantos livros ou discos compram em média estes candidatos ?

No que me diz respeito, muito poucos. Com a agravante de que me habituei a achar que a cultura pode ser um bem gratuito. De vez em quando lá pago cinco ou dez euros por um ingresso mas, de resto, entre bibliotecas municipais e downloads, pouco mais sai do meu orçamento para irrigar uma indústria que se quer vital para todos nós.

É certo que a maioria dos meus camaradas de Curso estarão ali mais interessados no seu processo pessoal do que num futuro profissional ou financeiro. Até porque ambas as realidades são compatíveis.  Portanto sim, é assumido que o objectivo primeiro será sempre pessoal muito embora eu considere essencial todos aqui nos colocarmos as seguintes perguntas:

Será que eu sou cliente da minha criação?; será que eu pagaria para comprar este livro se não fosse meu?; será que eu iria ver esta peça de teatro por entre as dezenas que por aí há caso não estivesse nela envolvido?

Eu sei que, no meu caso, a resposta é não. Não, não tenho sido um leitor regular; não, não me tenho apenas deixado guiar por critérios de pertinência. Hoje, por exemplo, devo ir à Cinemateca sem sequer saber o que por lá há. 

Não nos enganemos, de certo que isso retira alguma legitimidade aos meus propósitos. Quiçá deva olhar com simplicidade para aquilo que tenho feito e consumido para nortear algumas decisões presentes e futuras.

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