domingo, 16 de setembro de 2012

A Manif


Pois então claro, tinha de lá estar não é !?

Sim, porque, para todos os efeitos, basta o ter-se lá ido para ter cumprido o devido dever cívico.

E já agora, se der para fazer algum barulho, ainda melhor.

Sim, reconheço, sou crítico destas formas de acção: acho que não deixamos de ser ovelhas num rebanho; acho que muitos dos que ali estão, não sabem muito bem o que estão a defender; quando ouço a palavra “povo” seguida de “unido”, não reprimo um sorriso; quem é que hoje se assume como parte do povo? quem é que esteve na Manif por solidariedade pelo vizinho?

No entanto, não me quero ficar pelo lado crítico da coisa, especialmente depois de ter defendido aqui e alhures a necessidade das pessoas se saberem unir e agir como um todo. É só que por ter sido catequizado com histórias de feitos heróicos em nome da pátria, histórias de homens e mulheres  que davam a vida por causas em que acreditavam, passei a achar que os meus contemporâneos - nos quais me incluo - eram seres com pouco amor à camisola.

Penso hoje que as tais grandes guerras, os tais grandes feitos da nossa história eram e são o fruto de uma dramaturgia escrita por um poder vigente: o homem sempre foi um ser que se digladia com a sua pequenez e com o medo da sua morte. Os grandes feitos, já são para mim história de propaganda e de interesses instalados.

Mas voltando à Manif de hoje, mesmo se a grandiosidade que muitos lhe querem associar foge à minha percepção, sou forçado a registar o seguinte: se de início me era difícil a mim, e aqueles que me estavam mais próximos, gritar fosse o que fosse - especialmente a parte dos  GA-TU-NOS  -  GA-TU-NOS  -  fui sentindo com o avançar do protesto, que as vozes iam-se tornando mais firmes; mais seguras. Se de início, muitas se escondiam numa espécie de playback, aos poucos aquela coisa de em conjunto repetir a ladainha do revolucionário domingueiro até que ia ganhando alguma graça.

E para mim, este é o principal aspecto a reter desta grande dia histórico. É as pessoas, autorizarem-se a sair da cultura do comedido; a não temerem levantar a voz. E mesmo se é expectável que a maioria dos presentes tenha tão só vivido este protesto como um parênteses, não deixa de ser um precedente repleto de força: a força da massa que confere a cada um o poder de sair do comedido e de levantar a voz. Algo, que ao final pode efectivamente fazer diferença.

Andamos todos aqui muito empenhados em querer ver neste protesto de grande escala aquilo que mais nos agradaria. Eu, quiçá já um pouco blasé, sou excessivamente sensível ao lado folclórico e carneiro das multidões. Acho que a massa não pensa: segue; o que por definição não me agrada. Mas repito, o devolvermos às pessoas a consciência física do seu poder de acção é, num país tão amedrontado com a ideia de mudança, um feito que merece ser elevado à condição de acontecimento histórico.

NB: De salientar que saiu hoje no Semanário Expresso uma sondagem que dava PS e PSD empatados nas preferências de voto, caso fôssemos às urnas para novas eleições legislativas (33,7 para o PS e 33 para o PSD)

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