É daquelas coisas que sempre me fez alguma
impressão é a forma como em certos ambientes as pessoas se procuram conhecer.
Suponhamos, estamos numa festa entre pessoas da mesma idade adulta; pois noto que de país para país as perguntas tabu poderão variar mas há uma que nunca saí do top primeiro minuto: o
que é que fazes?
Poderia aqui dissertar sobre tudo o que a
questão encerra mas deixo este exercício para outras núpcias. Vou antes tratar
de responder a esta questão já que ao termo de agora uns sessenta desabafos
sempre mantive esse lado oculto.
E oculto continuará a ser ainda que vos diga
que sou empresário. Uma palavra aliás perfumada a naftalina. Na era start up e do empreendedorismo acho que
faria sentido aqui uma palavra menos pomposa. Talvez a inexistência de todo o
fraseado e léxico empresarial, normalmente emprestado ao inglês, seja ilustradora
da fraca capacidade de entender o mundo dos negócios neste país.
Algo irónico, alías, se atendermos ao nosso passado de descobridores e de pequenos e médios empresários da diáspora.
Algo irónico, alías, se atendermos ao nosso passado de descobridores e de pequenos e médios empresários da diáspora.
Da minha experiência, apesar de termos uma forte apetência para o design e ícones da modernidade continuamos a dispor de estruturas de apoio ao empresário muito arcaicas.
Primeiro cancro nacional: o senhor engenheiro
está em reunião. Mande mail
Mail enviado e reenviado e nada.
Segunda praga: inexistência de plataformas e
de uma legislação adequada.
Expliquem-me, por exemplo, de que é que o
Instituto de Emprego está à espera para adaptar os seus espaços a open spaces com acesso wireless; com horários de consultores
externos que enquadrem potenciais empreendedores; suponhamos segunda de manhã
um contabilista; terça um advogado; quarta um psicólogo?
Procurem agora ligar ao IAPMEI – vale a pena
soletrar a sigla para que o ridículo se torne óbvio: Instituto de Apoio à
Pequena e Média Empresa. Da experiência que tenho, devo dizer que se resumem a um zero; isso, na perspectiva do micro empresário porque um dos muitos contra-sensos deste
organismo é que só gere linhas de crédito que se destinam a estruturas com
dimensões mínimas superiores às da pequena empresa.
E poderia prosseguir por aí adiante. Ser
empreendedor neste país é um calvário. A cultura do funcionalismo que nos
caracteriza é ineficaz; é paroquial; não tem visão.
Portanto em modos de conselho balanço
dir-vos-ia apenas que se pretendem lançar um negócio, é bom que o façam numa
lógica de alguma auto-suficiência. Se quiserem integrar redes; procurem-nas
desde logo além fronteiras.
Mais do que isso, sejam persistentes; antecipem tempos de execução mais demorados do que os inicialmente previstos no
papel. Extrapolando para além dos desafios empresarias stricto sensu, é também importante integrar um principio simples: é
preciso dar antes de receber.
Por outro lado, também vos digo que não há
melhor sítio para se perceber a vida e o mundo em 2012 do que no papel de
empresário ou trabalhador independente. A instabilidade é uma boa escola:
permite-nos olhar para o futuro com liberdade e espírito crítico. O futuro de Portugal carece precisamente de pessoas mais livres, descomplexadas e focadas na eficácia.
Apenas é preciso estar consciente de que é um
percurso por vezes solitário e que, no
meu caso, me levou a iniciar uma viagem interior bastante atribulada.
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