Esta coisa da psicologia positiva por vezes já
enjoa. Em boa hora que há arte e a rua para nos libertarem deste credo
politicamente correcto.
Às vezes é bom recordar que viver é morrer;
que todas as teorias que possamos aqui inventar não invertem o facto de
vivermos num funil que nos conduz para um fim inexorável; e que nesse sentido
saber brincar com esse fim também pode ser uma boa forma de exorcizar esse
determinismo do tempo que passa.
Eu sei que quando olho para representações oitentistas,
nascidas da opulência, gabo-lhes aquela ligeireza; o prazer do fumo, da
velocidade, do fast food, dos copos a
mais.
Que bela celebração da vida. Se viver é
morrer, pois morramos de tesão.
Porque é que os medicamentos só hão de servir
para compensar lacunas; usemo-los para rebentar com a escala. Faça-se da normalidade
algo de pequeno. Nem que seja só por uma noite que ilumine os dias.
Esta cultura do ócio tinha algo de saudável na justa medida em que a cultura ascética do equilíbrio pode hoje ter algo de desumano.
... Eu sei que estava há duas semanas a levar
com os decibéis dos Six Organs of
Admittance na Music Box e o que
aquela intensidade despertou em mim foi a consciência do meu apego à ideia de
verdade. Estava ali perante uns tipos que estavam sem especiais maneirismos a
abrir as tripas em palco. Fizeram-no por
inteiro; sem concessões. Senti ali uma valente injeção de verdade; algo a que
quem só procura o equilíbrio nesta vida não será tão sensível.
Chego hoje à conclusão que esta diferença tipifica
dois tipos de pessoas: as que procuram o equilíbrio e as que não sabem viver
sem este “sentimento” de verdade.
Claro que uma conclusão destas só pode ser
caricatural mas não deixa de encerrar uma verdade para mim: o fútil poder ser,
por vezes, tão mais útil que o útil.
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