Se esta viagem ao ano 2000 me ocorreu foi por ter
vivido há dias um cenário tristemente comum. Fui dar com uma vizinha minha, dos
seus 82 anos de idade, caída nas escadas do prédio: aiaiai uiuiui,
braço partido em dois sítios.
Só que antes de chegarmos a esse diagnóstico
houve aqui toda uma saga até ao ínfimo.
Fiquei a saber que a vizinha em questão tem de há dois anos a esta parte Alzheimer de modo que além dum braço partido, estava ali aquela senhora, que desde sempre fora uma pessoa de uma docilidade proporcional à sua descrição, sem as chaves de casa esquecidas algures; etapa seguinte, tentar identificar um familiar que a pudesse acompanhar até ao hospital mas além das chaves fora-se-lhe também a memória.
Fiquei a saber que a vizinha em questão tem de há dois anos a esta parte Alzheimer de modo que além dum braço partido, estava ali aquela senhora, que desde sempre fora uma pessoa de uma docilidade proporcional à sua descrição, sem as chaves de casa esquecidas algures; etapa seguinte, tentar identificar um familiar que a pudesse acompanhar até ao hospital mas além das chaves fora-se-lhe também a memória.
Este é um pequeno incidente da vida dita normal
mas para mim, foi em certa medida uma pequena tragédia: porque, ao final,
percebi que aquela senhora está muito
mais só e entregue a ela própria do que seria de imaginar; porque percebi ainda
que de um dia para o outro, vê a sua vida e integridade totalmente exposta ao aleatório.
Face a isto, resgatei do baú algumas teorias
passadas: se as minhas avós vivem a cerca de 200 km’s do meu quotidiano, quem
me impede de fazer desta senhora uma avó lisboeta; nesse mesmo registo quem me
impede de ir ali à instituição das crianças abandonadas e aos poucos ir
custeando as despesas de uma delas antes de, se o entendimento o permitir,
evoluir para uns fins-de-semana conjuntos e por aí adiante... Novos avós,
filhos ou até partilha de casas entre pessoas que recriem novas famílias:
porque não?
Recordo-me de me ter em tempos cruzado com uma
ex-vizinha, mãe solteira, que adoptara uma criança há anos e que decidira
deixar este seu pequeno apartamento para se juntar a um casal amigo, pai de
duas crianças. Em conjunto, ou seja os três adultos com as três crianças
arrendarem uma casa bem maior: era só vantagens, dizia-me ela. Desde a filha
não crescer só a viver numa casa espaçosa passando pelo facto dos pais se
poderem revezar num quotidiano menos estressante.
Eu sei que faço parte destes tempos que mudam e
que quem não abre mão de modelos de relacionamento caducos corre o risco de se
privar de uma vida mais rica. Não quero viver a minha vida só; não quero fingir
que não vejo esta miséria alheia. Quero-me abrir, à margem de uma efectiva
necessidade de alguma solidão e privacidade, para que a minha felicidade seja
um processo colectivo e afectivo.
Sinceramente, gostei da tua reflexão.
ResponderEliminarAté fiquei a pensar que eras pessoa para gostar de ir a um Jantar de Natal com desconhecidos, pois tens a mente aberta. Que me dizes?
:)
Com gosto... Já agora gostava era de ter mais algumas precisões acerca do local e dos demais participantes. É possível :) ?
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