Mas se olharmos para as sucessivas tentativas de
unificar as bases do português escrito, veremos que raros terão sido os actores
desse processo que se tenham verdadeiramente predisposto a consensos. Portugal
continua a ter comportamentos de uma nobreza deposta como se fosse dono de um
português puro.
Compreendo todos os apegos a regionalismos e
subtilezas mas acho que se está aqui a esquecer um aspecto essencial: o acordo
tem por vocação formatar um registo da comunicação escrita portuguesa. Algo que
permitirá que publicações académicas possam circular a outra escala; que o
mundo do trabalho possa também ele sobrevoar os mares...
De fora hão de ficar as oralidades e outros
níveis de comunicação escrita. Reparem que a pessoa que hoje escreve SMS's
com k é a mesma pessoa que é capaz de dirigir uma carta de candidatura
espontânea num português formal; a mesma ainda que saberá diferenciar um tu de
um você noutros contextos; que saberá ler e entender o Eça do século XIX e que
usará uns afro bués na sua linguagem de rua. É desta diversidade e elasticidade
que depende a vitalidade de uma das línguas com maior potencial de crescimento
neste início de século.
É claro que é preciso salvaguardar a
possibilidade de um conjunto de duplas grafias serem mantidas deixando ao tempo o papel de definir que formas é que deverão resistir ao passar dos anos.
Agora confesso que esta visão semi-académica semi-protecionista do aqui
é que se fala como deve ser em nome de um passado é a negação de valores de
actualidade da língua. É graças a esses modelos embalsamados que anda tudo a
escolher expressões e nomes em inglês na hora em que querem associar
modernidade às marcas e slogans.
Vá-se...
ResponderEliminar... mas não volte. Bem haja.
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