Estava há dias a atravessar o Bairro Alto acompanhado
por dois amigos e lá entrámos todos lampeiros numa destas lojas novas onde se
vendem gomas e doces fora de horas. E da
mesma forma como nos surpreendemos com a ressurgência de prazeres infantis numa
zona supostamente pouco dada a canduras voltei a dar com o espanto da minha
vizinhança face à chegada de uma dessas lojas aqui no fim da rua.
Deixem-me já pôr cobro ao mistério do sweet power. Na verdade, o que se passa é que estas lojas
estão directamente acopladas às smart
shops, lojas onde se vendem todo o tipo de drogas; em causa estão adubos e
fármacos legais que aqui remisturados funcionam como estimulantes. Um dos
pressupostos desses produtos é não serem misturados com álcool podendo, isso
sim, ser associados a doces cujo açúcar até potencia os efeitos.
Esta é uma realidade que marca hoje presença
nos centros das cidades mas que continua a passar totalmente despercebida por quem
não seja iniciado aos códigos das novas tribos urbanas. Enquanto pais se mantêm preocupados com substâncias da sua juventude
como álcool, charros e drogas ditas duras a verdade é que aquilo que lhes
poderia merecer efectiva preocupação lhes desperta até sorrisos ingénuos: uma
loja de doces para adoçar as noites da rapaziada; mas que bom.
Estou aqui a falar de drogas como poderia
falar de zonas e códigos de engate ou subterfúgios que fazem com que um quarto
da nossa economia seja paralela. A verdade é que vivemos na era da rede; ou bem
que se dominam os códigos e essa realidade torna-se aparente e expressiva ou
passamos por ela como se não existisse. Não há dúvidas de que o paradigma
quântico está hoje presente na forma como olhamos para a realidade. As coisas
só existem face a observadores activos.
Haverá quem diga que estou aqui a complicar;
que o que importa é que quem quiser ali ver na loja de gomas uma simples loja de
gomas veja e quem a quiser usar noutros contextos pois que o faça; que dez bairros
diferentes numa grande cidade valem mais do que um só grande bairro
uniforme.
Pois para mim a cidade é o ponto de convergência onde passa a ser possível fazer coisas novas com pessoas diferentes; crescer com a diferença do outro; deixar que cenários improváveis me abram portas para o desconhecido ao sabor dos acasos e não que seja o meu smartphone a brindar-me com mensagens patrocinadas que orientem os meus passos e supostas escolhas.
Pois para mim a cidade é o ponto de convergência onde passa a ser possível fazer coisas novas com pessoas diferentes; crescer com a diferença do outro; deixar que cenários improváveis me abram portas para o desconhecido ao sabor dos acasos e não que seja o meu smartphone a brindar-me com mensagens patrocinadas que orientem os meus passos e supostas escolhas.
É isso; de certa maneira acho que esta lógica da
rede já nasce de uma visão muito segmentada: ver o que se quer ver, falar a nichos de mercados, rodear-se
de quem se pareça comigo, domesticar o risco...
Uiui...
onde tu já vais
Pois é ... Vou mas é ali ao fim da rua adoçar o palato e deixar-me de "orwellices"
E pensar (eu) que comi gomas ontem! (Há tanto tempo que não o fazia...)
ResponderEliminarOlha, já agora, se quiseres ir:
http://escreverumlivro.blogspot.pt/2012/11/jantar-de-natal-de-blogueiros-em-lisboa.html
P.S. Gomas, mas não eram dessas! :P
Depois da silly season é agora tempo de sweet one
ResponderEliminarVou ver o convite com atenção e digo-te algo em breve :)
Obrigado e até breve!