Não estará na hora de
questionarmos a inocuidade das chamadas figuras públicas que ocupam, hoje em dia, o espaço público?
Desde os colunáveis
aos nossos representantes políticos, a nosso modernidade foi consagrando cada
vez mais personalidades notoriamente incultas.
A plástica substitui-se à graça e o pretenso carisma à
inteligência. O mercado que mande, dirão
alguns; a que eu respondo: não basta.
É que se fizermos uma
pequena retrospectiva, veremos que era papel da nobreza de outros tempos, o associar ao poder um dever de exemplaridade e de moralidade, ainda que pudesse só ser em termos aparentes. A burguesia optou por fazer da cultura e da educação o seu melhor brasão. Já hoje, torna-se difícil tipificar um padrão
de meritocracia que caracterize uma qualquer elite.
O bom da coisa, é que
a sociedade do saber deixou de ser piramidal e que se encontram hoje pessoas
portadores desses valores de exemplaridade em todos os quadrantes socioeconómicos. Agora eu pergunto: como e quem é que faz
hoje história?
Esta é uma pergunta
que me leva a questionar aqui outro ponto: qual a relação que seria desejável
existir entre a esfera da cultura e do saber e a da ação política?
Recordo que temos
como símbolo nacional um poeta: feito inédito num mapa povoado de heróis
militares. É certo que se olharmos para
uma galeria de fotos oficiais dos nossos presidentes da república, observaremos
que após os trajes militares se seguiu a bela da biblioteca como pano de fundo antes
de se chegar agora ao relvado, janela aberta ou lareira, símbolos da inocuidade.
O poder político
quer-se hoje afastado da cultura tanto quanto essa se quer hoje alheia a esse
parente incómodo.
A cultura deixou de ser o vector preferencial de construção de imagens sociais
fortes; daí que os atuais assessores políticos estejam mais interessados em
domar a linguagem audiovisual do que
tentarem ver e perceber a sociedade através das suas representações culturais.
E assim se foi
evoluindo Europa fora para governos compostos de especialistas e técnicos de
contas. Ser culto é hoje algo de francamente dispensável no exercício do poder.
É bom contudo
questionar de onde nasceu o sistema que organiza as relações entre esquerda e direita
dentro do qual se pensam as liberdades. Nomes como Rousseau criaram as bases da nossa
democracia moderna.
Alguém aqui acredita
que os atuais representantes democráticos sejam os fieis herdeiros de quem um dia
definiu conceitos como o de justiça e igualdade?
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