Se há coisa que, nos
últimos anos, sofreu profundas mudanças no meu dia-a-dia foi a minha relação com
o alimento.
Não é aliás um
processo que se encontre encerrado: até porque dou por mim, às
vezes, a censurar esta visão higienista e pouco sensual que tenho ganho face à comida. Muito saudável; muito
regenerador muito muita coisa mas, a certa altura, pouco prazeroso.
Há face a essa
análise várias interpretações: uma vai no sentido de acharmos que é o padrão
dado como normal que deve ser repensado e que aquilo que é hoje visto como
ascético será um dia o novo padrão de uma sociedade mais inteligente; e há depois o lado bon
vivant: aquele que vê no alimento uma ligação primária ao prazer: E eu,
confesso estar no entre dois, mas mais inclinado a ter cuidados múltiplos para
não ganhar barriga.
Mas é verdade que
esta coisa da barriga lisa também é em certa medida uma ditadura contranatura. Noto que fomos, ao longo dos últimos anos,
desenvolvendo uma relação de ansiedade face ao alimento. De tal maneira que foi
surgindo todo um “engenhês” alimentar. Se em tempos se comia comida,
passámos a alimentarmo-nos com alimentos e estamos agora a caminho da
nutrição à base de nutrientes com nomes muito pouco apetitosos. Já lá vão as
batatas e tomates, agora ingerimos ómega três, vitaminas B12 e minerais como o zinco
ou o ferro.
Hum... Miam miam
Este é seguramente
um discurso criado por uma indústria emergente ligada à saúde que nos brinda
com pérolas do género “alicamentos”. Mas interessa é que toda esta terminologia
passou a redigir o guião de uma nova “higiene alimentar”.
Contra mim falo, é
evidente. Agora deixo aqui uma dúvida: Não estaremos numa fase embrionária do discurso saudável que ao longo
do seu amadurecimento deverá incorporar algo de tão vital para a saúde das
pessoas como o simples prazer?
Sendo certo que o
prazer também não tem de ir de par com alimentos pouco saudáveis.
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