Já está; já acabou. Terminou ontem o meu Curso
de quatro semanas de Comunicação Não Violenta. Gostei bastante; até porque
ocorre numa altura estratégica em que ando com o peito e a cabeça em fase de
sincronização. E é aliás a esse nível que se coloca o centro das minhas
aprendizagens.
Percebi que tenho uma grande dificuldade em
articular pensamento com emoção. Não quer dizer que não saiba sentir ou que
não saiba pensar. Ambas funcionam bem num registo autónomo: já na hora em que é
suposto agir de forma concertada, a coisa empanca.
Deixo ao cuidado de cada um a pesquisa do que
é a Comunicação Não Violenta. Mas para o que aqui interessa, diria apenas que
se trata de uma metodologia que divide em quatro etapas a relação ao outro. Se
por norma reagimos de imediato, aqui apela-se, em primeiro lugar, a uma “factualização”
da situação de partida antes de analisar qual é a emoção que esta situação gera
em mim; segue-se, numa terceira fase, o ser capaz de identificar qual a
necessidade que se encontra por detrás daquela emoção. A partir daí
passa a ser possível elaborar um pedido, de si para consigo ou para com o outro, que assuma a minha necessidade, e não a situação inicial, como ponto de partida
para o diálogo.
Digo já que não tenciono alargar esta
metodologia a todas as minhas interações por achar que às vezes nada substitui
um acto mais irrefletido e explosivo. Agora admito que interiorizar a ideia de
que somos donos daquilo que nos afecta é em si um principio a fomentar.
O verdadeiro desafio começa agora para mim:
ser capaz, fora deste contexto enquadrado, de pôr em prática esta ginástica
intima. Sei que um dos objectivos principais que me levou a frequentar este Curso
era o de domar a minha extrema necessidade de interagir para existir. Isso na
prática tem-se traduzido por ocupar um espaço que não me pertence; passa às
vezes por opinar quando devia apenas
ouvir; passa por não conseguir deixar de ansiar que haja quem me leia aqui em
vez de me focar na minha necessidade pessoal de escrever; passa também por ser
especialmente intolerante face a quem tem os meus defeitos.
Sei, por exemplo, que intervim demasiado ao
longo deste Curso; sei ainda que não devia ter enviado a semana passada o mail ao professor de escrita criativa
para lhe dizer que não tinha gostado da sua formação; devia ter aprendido a
guardar e domar esta frustração sem ter de a devolver ao remetente.
Estou por isso, num entre dois: estou na fase
de uma consciência mais límpida e menos culpada mas ainda estou aquém de uma
acção filtrada pelo pensamento. A mesma continua conectada às minhas pulsões; o
que não deixa de ser paradoxal para um hiperactivo mental.
O processo implica agora, o ser capaz de parar
para questionar mentalmente que emoção é essa a que me habita neste instante:
voltar a cuidar desta biblioteca nem que seja só para, no sentido inverso,
sempre que necessitar de fazer apelo a uma determinada emoção, saber onde a
posso ir buscar. Interiorizar a memória
do que é a gratidão para tentar replicar este estado de espírito poderá ser-me-útil
sempre que achar que a gratidão pode ser uma resposta àquele desconforto.
Soube ontem, neste Curso, que a girafa é de
todos os animais o que tem o maior coração. Se imputarmos isso ao tamanho do
pescoço, diria que também eu devo ter um coração consequente, já que o meu
pescoço – ou seja a distância que vai do peito à cabeça – continua a rivalizar
com o de qualquer girafídeo.
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