Desde que me mudei
para Lisboa que me lembro de ver aquele casal estacionado à porta da
Procuradoria Geral da República, em protesto contra uma alegada usurpação. Há ali naquela atitude algo que desafia todos
os códigos da sensatez. É como se aquele homem, num determinado momento,
habitado pela convicção de estar a ser injustiçado, tivesse feito uma jura interior de que não
se deixaria abusar.
Há algo de corajoso
nesta teimosia que resiste agora aos anos e às décadas. Tem nomeadamente o
mérito de questionar transeuntes e condutores acerca das respectivas
capacidades de combatividade. Mas também
há ali algo que me desconforta ao mais alto nível.
Quantas vezes no
auge de uma irritação vislumbrei a possibilidade de levar até ao último reduto
a minha capacidade de repor justiça naquela situação: hão-de-ver aquilo de que
sou capaz. E lá me imaginava eu, ao termo de muitos esforços, a ver a minha
persistência reconhecida. Casos houve em que sim valeu a pena, mas muitos houve em que a desistência venceu por não me querer alimentar mais daquele conflito.
No caso daquele
casal, mesmo supondo que a causa deles seja justificada; supondo que amanhã o
combate deles também seja reconhecido e resolvido: terá valido a pena?
Bem sei que este meu
discurso pode ser aqui visto como derrotista; também sei que continuamos a
educar os nossos filhos com estes credos do sonho comanda a vida e luta pelas
tuas convicções. Eu também os cultivo no meu quotidiano mas também defendo a
capacidade de fazer marcha atrás; e reconhecer que aquela opção foi um erro; de
não insistir por um caminho que teima em se fechar a mim; quiçá a vida esteja
apenas a querer mostrar-me que não há uma só forma de se ser feliz... E
portanto face a este meu diletantismo reconheço que o empenho daquele casal
afigura-se-me como uma vida desperdiçada em nome de um eu hei de lhes mostrar.
Saber desistir
também pode ser bom; em última análise saber parar não tem de ser
uma derrota tal como seguir em frente nem sempre é a solução mais corajosa.
Aqui fica, já agora,
para trazer alguma factualidade a este relato, o porquê destes 17 anos de luta
de Flora e Florindo Beja:
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Interior.aspx?content_id=558996
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