Nasci em 1974. Para
mim, a década de oitenta ainda está muito ancorada à infância. Razão pela qual
quando fui recentemente a uma festa anos 80, optei antes por levar uma tee-shirt
do Tintim mais do que uns collants da American
Apparel.
Mas noto que os anos
80 têm-se revelado persistentes nesta sua capacidade de devolver, nem que seja
só por uma noite, a capacidade de
perverter códigos sociais; de brincar com as aparências; de encenar a
felicidade. Esta foi a última estação dos amanhãs gloriosos na Europa.
É que isto de ser
feliz, é mais uma questão de futuros possíveis do que de presentes.
O que é certo é que
os anos oitenta estão, para mim, ligados aquela cultura do “live fast, die young”, cujos ícones
passam por um Tom Selleck – da série Magnum -
fortalhaço, a conduzir um descapotável rápido e acompanhado de uma
louraça mamalhuda.
Digamos que
transposta para hoje, esta imagem teria
poucas hipóteses de vingar; seria mais o mesmo Tom Selleck, desta vez a
conduzir o carro de polícia – série Blue
Bloods - e com a mamalhuda no banco
de trás por atentado ao pudor.
Então e se o “live fast die young” foi em tempos o
grito de uma geração, qual será a assinatura deste início de século?
Eu diria: “... “
... Cujo melhor ícone
é a Hello Kitty. Uma boneca que não
fala nem tem história e que se fica pelo seu estatuto de coisa fofinha. Para mim, a tríade “Sex, Drugs and Rock’n’Roll”
deu entretanto lugar a uma cultura pudica. Passámos da jovem americana
pronto ao consumo para uma jovem asiática que esconde a puberdade por detrás da
fatiota colegial.
Sim, porque não
tenhamos dúvidas, o novo motor do mundo passou a acordar cedo, para os lados do
sol nascente. Lá se foram as noitadas. É inegável que se sente um entusiasmo na
Ásia que deixou de se sentir por estes lados. Há lá jovens galvanizados pelas
perspectivas de um futuro próspero. Sente-se essa tesão, assexuada, na rua.
Agora resta saber
qual a capacidades que estes jovens atores do xadrez mundial terão em propor
modelos de vida além de bens de consumo.
É que por cá, está
visto, a Europa desistiu de fazer história muito em virtude da sua perda de
velocidade económica.
Quem sabe, agora que
o traço mais característico do Velho Mundo é a Saudade, talvez o fado fique na
moda.
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